Quer me ver dando piruetas de dor, é confundir punk com funk.
Essas duas palavrinhas que soam tão parecidas ganharam, nos últimos 40 anos, significados tão complexos e específicos que a confusão entre as duas devia dar cadeia. Já me cansei de ouvir isso, ou pior, de ver jogando os dois no mesmo balaio de gato, como se fossem a mesma coisa. Seria justo dizer que Beethoven e Mozart são também a mesma coisa? Decerto que não.
Deixemos de lado a lamentação e passemos aos fatos. Antes de mais nada, uma lépida consulta ao pai-dos-burros, para usar uma expressão bem escrota.
punk
1. Uma prostituta. "My lord, she may be a punk; for many of them are neither maid, widow, nor wife." - William Shakespeare, 'Measure for Measure'.
2. Gíria de prisão para designar um detento que serve a outros prisioneiros no papel da mulher em relações sexuais (1946).
3. Jovem delinqüente, causador de problemas e autor de pequenos crimes.
No início dos anos 1970, na cidade de Nova York, essa palavra ganhou uma nova conotação, baseada na terceira definição do nosso verbete:
4. Jovem entediado que gosta de rock barulhento e se rebela contra o sistema e a sociedade (ou algo parecido).
Vejamos agora o que está atrás da porta número 2:
funk.
1. Doença mental; medo, pânico, covardia.
2. Mau-cheiro provocado pelo acúmulo de suor nas axilas. Expressão do século XVIII citada no Universal English Dictionary de 1896.
Isso que nos leva ao real significado que estamos procurando:
3. Gênero musical nascido no final dos anos 1960 e início dos anos 1970.
O nome veio naturalmente, a partir da maneira como esse novo ritmo foi se formando: em bailes populares, onde amontoados de gente se espremiam na pista e dançavam loucamente por horas a fio, provocando um odor ambiente bastante peculiar.
Esteticamente falando, os dois são bastante diferentes. Nos anos 1970, houve uma espécie de ruptura na música pop, que se enveredou por basicamente dois caminhos: a música ao vivo e a música de dançar. A música ao vivo, executada por bandas em cima de palcos, atraía um público que buscava uma experiência estética grupal envolvendo a execução de músicas, a compreensão das letras, e outras coisas do tipo - algo remanescente do Vaudeville e do teatro de variedades em geral. Prova disso é que foi nos anos 1970 que as bandas de rock passaram a usar palcos gigantescos, cenários teatrais, maquiagens, personagens, fantasias, etc - v. New York Dolls, KISS, Iron Maiden.
A música de dançar, por outro lado, atendia ao público que gostava de dançar sem necessariamente prestar atenção em um palco. Essa tradição vem diretamente da linha das big bands dos anos 1940, e culminou, depois do surgimento do funk, no surgimento da música eletrônica dançante - bem diferente da música eletrônica e eletro-acústica produzida desde os anos 1930 por músicos eruditos - a partir do tecno de Detroit e do eletro-funk nova-iorquino.
Bom, resumindo, então: qual é a diferença entre o punk e o funk?
Um jeito bem estranho de beber...
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Ao longo da minha vida eu já vi muitas pessoas esquisitas bebendo coisas
estranhas de maneiras bastante inusitadas.
Agora, isso aqui... Isso aqui eu nunca ...
Um comentário:
Não estou certo se é tão bizarro confundir funk com punk. Quem faz isso não está nem aí para gêneros musicais e acho difícil julgar.
Um exemplo? Suassuna:
http://br.youtube.com/watch?v=rlC6oTcSUa4&feature=related
PS: eu fico puto quando confundem Linux com MS-DOS.
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