17 de julho de 2008

As comidas e os lugares


Se eu tivesse dinheiro infinito, iria rodar o mundo com uma câmera de vídeo e fazer um documentário sobre as comidas do Brasil que têm nomes de lugares do mundo.

Explico.

Quase tudo que comemos no Brasil veio de outro país. Estrogonofe, cuz-cuz, esfiha - toda nossa comida "típica" veio de outros países, juntamente com os colonos que construíram nossa estranha e simpática nação.

No meio dessa mistureba cultural nasceram algumas incorreções, por motivos os mais diversos, em relação à origem de determinados alimentos. Eu, que sou um pessimista inveterado, sempre vejo o mal por trás de tudo, e tenho certeza que os inventores de certas comidas estavam apenas tentando aumentar suas vendas, atribuindo certos valores a certas comidas.

Frente a isso, comecei uma longa pesquisa que ainda está longe de acabar. Por enquanto estou me atendo apenas a comidas que têm o "local de origem" no nome da comida, tentando determinar se esta ou aquela comida são mesmo originárias de onde dizem.

Vamos a elas:

  • Arroz à grega: Eu nem sabia que tinha arroz na Grécia. Por que diabos eles colocam presunto e vagem no arroz? Pra mim aquilo parece mais é arroz chao-chao, aquele que os chineses de Macau chamam de "comida chinesa". Duvido que seja grego mesmo.
  • Churrasco grego: E falando em comida grega, o que dizer desse prato equivocado que mais se parece com um espetinho cheio de fatias de carne que sobrou do natal? Sentem-se firmemente, amigos: contrariando a tradição popular do Brasil, o churrasco grego na verdade é turco. O nome dele é Döner e é preparado exatamente igual o que chamamos de "grego", mas na verdade é turco. Considerando que até hoje os gregos chamam Istambul de "Constantinopla", eu acho melhor a gente não se meter nessa discussão, e deixar que os nossos irmãos bosforenses discutam por lá suas diferenças. Aqui no Brasil, vamos comendo um churrasquinho turco grego mesmo e não se fala mais nisso.
  • Amendoim japonês: Segundo nosso reportagem conseguiu averiguar, o amendoim japonês foi inventado no Brasil mesmo, por imigrantes japoneses em São Paulo. Possivelmente o nome original era "amendoim do japonês" e depois tiraram o "do" do meio do nome. Afinal de contas, o amendoim é originário das américas, e não poderia de forma alguma ter vindo do Japão. Aqui no Brasil eles criaram aquela casquinha de shoyu. Mas o amendoim japonês é brasileiro mesmo.

Existe toda uma sub-categoria de comidas pretensamente italianas, cada uma com o nome de uma cidade. Vamos a elas:

  • Espaguete à Bolonhesa: Se você tentar comer um espaguete à bolonhesa em Bolonha, vai apanhar na rua. Para começar, eles nunca fazem o molho deles com espaguete, mas com tagliatelle ou massar curtas como rigatoni. O molho deles, registrado oficialmente na Accademia Italiana della Cucina em 1982, leva carne, pancetta, cebola, cenoura, salsão, tomate, caldo de carne, vinho tinto, e, às vezes, creme de leite. Muito diferente do miojo com pomarola e boi ralado que eles servem na cantina da sua faculdade. O curioso aqui é que todos esses molhos italianos feitos de carne e tomate recebem o nome de "ragù" - palavra de origem francesa, ragôut, que significa "reavivar o sabor" ou algo parecido.
  • Pizza Napolitana: Essa existe mesmo, mas é o problema oposto: tem tantas regras que aqui no Brasil ninguém consegue fazer uma legítima pizza napolitana. Para começar, você precisaria de tomates San Marzano plantados na terra do vulcão Vesúvio, e de leite de búfala semi-selvagem de Lazio... enfim, maiores informações no site verapizzanepoletana.org
  • Bife à Milanesa: Sei lá de onde diabos tiraram que esse prato foi inventado em Milão. O Wiener Schnitzel é um prato austríaco, e consiste de um bife de vitelo coberto com ovo e farelo de pão, frito por imersão. Uma delícia... da culinária austríaca! Existe uma teoria de que um militar austríaco teria aprendido a fazer esse prato na Itália, mas ninguém nunca conseguiu provar nada.
  • File à Parmigianna: Aparentemente esse prato existe mesmo, mas sua origem é o "parmeggiana", um prato siciliano feito com beringelas, molho de tomate e mussarela. Eu já vi essa "variação" em um monte de programas e sites de receitas e comidas saudáveis, mas na verdade ele é que é o original! O que nós fazemos aqui no Brasil é um "parmeggiana com wiener schnitzel no lugar da beringela". Ponto para o Brasil mais uma vez...
  • Espaguete à Putanesca: Não existe nenhuma região chamada Putania na Itália. Esse macarrão é só isso que você está pensando mesmo. Exatamente isso que você está pensando. Se a sua mãe fazia esse macarrão para você comer quando você era pequeno, sinto muito: você é um filho da puta.
  • Macarrão à Parisiense: Já procurei esse prato em tudo quanto foi livro de receita sério e em sites, e nunca encontrei nenhuma menção honrosa a ele. Francamente, conhecendo as maravilhas de que a culinária francesa costuma ser capaz, espaguete com creme de leite, ervilhas e apresuntado não me parece muito factível. É possível, mas ainda precisamos de provas.
Some-se a tudo isso o fato de que aquilo que nós chamamos de "comida chinesa" é na verdade a comida de Macau, uma pequena ex-colônia portuguesa na China que tem uma culinária toda particular, misturando cozinha chinesa, portuguesa, indiana e etc. A comida chinesa mesmo, que os chineses comem todos os dias, deve ser um tanto quanto diferente dessa a que nós estamos acostumados.

Bom, chega por enquanto. Acho que deu para entender. Quem tiver mais sugestões de pratos com nomes de lugares a serem investigados, podem mandar um comentário para que a nossa equipe de investigações possa entrar em ação.

4 comentários:

Kalatalo disse...

Sobre o macarrão à parisiense e a sua variação, o arroz à parisiense.
Já perguntei para um amigo francês que mora em Paris, ele nunca ouviu falar destes pratos.

Paula Ruas disse...

Oi Dani =)
Quanto tempo hein? Nunca tinha lido seu blog e achei ele hoje por acaso... muito bem =)
Ah, e parabéns pelo bebê!
beijos
Paula

Anônimo disse...

Acho que o que mais me intriga, além da pizza cortada À FRANCESA, é a saída discreta idem.

Sara disse...

O fato de que há poucos lugares para obter boa comida e, especialmente, com algum bom uísque, mas um sempre sabe para onde ir e, geralmente, podem contar com restaurantes em itaim bibi