17 de julho de 2008

A escada rolante do Maletta

Da coluna do Lucas Mendes de hoje na BBC:

"Na década de 60, em Belo Horizonte, eramos maleteiros. Estudantes, intelectuais, artistas, políticos e bêbados que freqüentavam os bares e restaurantes do recém-inaugurado conjunto Anchangelo Maleta, na rua da Bahia, artéria tradicional da boemia de BH.

No segundo andar ficava o Sagarana, um bar freqüentado por esquerdistas e direitistas, mas não havia ainda militância armada.

Um músico tímido chamado Milton Nascimento, mais conhecido como Bituca, fazia esforço para ser ouvido naquele bate-boca político-existencial.

Fernando Gabeira aparecia com freqüência e ficava numa mesa do fundo. Foi lá que recebi dele meu primeiro convite para trabalhar em jornal, o Correio de Minas. (...)

Quando o Sagarana fechava, nosso grupo, inclusive o Espião, ia paquerar as moças que tinham terminado o trabalho nos bordéis e esticavam a noite no dancing Almanara. Depois saíamos com elas pela madrugada adentro."

Para quem não sabe
, o referido edifício fica bem ao lado do meu aqui. Tenho muito orgulho de morar nessa quebrada. O Belvedere inteiro que se dane!

Esse local da cidade já era histórico antes mesmo do Maletta ser construído. Antes disso, ficava ali um grande hotel, onde JK e Niemeyer encontraram-se pela primeira vez para discutir o projeto da Pampulha.

Mais tarde, quando o hotel foi derrubado e o Maletta foi construído, ele continha a primeira escada rolante funcionando em Minas Gerais. Vinha gente do interior do estado, nos fins-de-semana, só para andar de escada rolante. (As pessoas se divertem como podem.)

Eu nunca vi essa escada funcionando. Quando eu era criança, vim algumas vezes ao Maletta, sempre trazido por algum adulto, para os mais variados fins: comprar gibis antigos no Sebo do Shazam, ou ver as novidades na Aerobel e no Castelo das Mágicas. E desde aquela época que essa escada não funciona.

Ela era feita de ferro, e todos os degraus estavam empenados no meio, e lisos, de tanta gente subir e descer por ali todos os dias. Finalmente, no final dos anos 1990, resolveram trocar a escada por uma nova. A antiga estava amassada e os degraus estavam lisos, de tão velha e usada. Mas era linda, um marco histórico da cidade. Trocaram a coitada, prometendo uma nova era de prosperidade e investimentos no centro comercial do edifício.

Tudo besteira. Poucos meses depois, a escada quebrou. E continua, desde então, parada. Nova, linda, e quebrada igual à outra. Um símbolo de tudo que há mais de errado nessa capital das alterosas.

(tem também a esteira rolante da rodoviária, mas isso é outro assunto)

Um comentário:

.cleozinha. disse...

Ei Daniel, desculpe te contradizer, mas segundo meu humilde conhecimento de arquiteta que tb mora em BH sei que Niemeyer estava hospedado no Normandy quando esboçou o projeto do conjunto da Pampulha. Esse hotel fica na Tamoios com Afonso Pena, do lado da Igreja São José. Outra informação boa é que a Cantina do Lucas, que vc bem sabe fica no Maleta, é tombada em nível municipal. Beijo! Adoro seu blog.