Criei um monstro. Lendo uma frase no blog do Rafael, fiz a ele alguns questionamentos, que ele respondeu, e eu agora para contra-responder vou precisar de um post inteiro e enorme.
Foi assim que tudo começou, no final de um parágrafo dele:
"Imagino a mãe desse menino vendo essas demonstrações tão profundas de amor. E o que é mais virtual do que o amor, hein? Mais desprendido, mais sutil e belo do que isso, essas demonstrações gratuitas de bem-querer."
Mandei então o seguinte comentário:
"Estava aqui relendo e pensando nessa coisa do amor ser virtual. É muito assunto para se pensar. Até onde o amor é virtual? E de quem é a "culpa" disso? Até que ponto devemos deixar isso assim mesmo, e a partir de que ponto podemos exigir mais desse tal de amor - já que não depende só da gente? Lembrando que amor não é só casamento, tem muitos tipos de amores..."
Ao que ele então respondeu:
"O virtual tinha entrado na parada meio por acaso. Mas disso tudo que você falou, também compactuei com sua dor de cabeça. Primeiro: eu estou usando uma noção suja de virtual, sem me preocupar muito com o Baudrillard ou sei lá quem. Eu falo que o amor é virtual porque ele não é sempre perceptível; ele é sempre algo atualizado, que desatualiza, se "esquece", e aí que se sustenta no espaço virtual, mas que não está ali, em cima da mesa. A questão talvez seja se desse virtual ele se atualiza de fato, se faz presente, em sorrisos, flores, e músicas americanas bregas traduzidas na BH-FM. Ou seja, se o que não existe como dado concreto e real, certo e previsível, se faz presente em algum momento. Agora, se o que se faz presente é amor, interesse, ou tesão, isso é um outro problema...
Acho que o amor depende só da gente mesmo. Falo do amor de cada um. Não acredito que o amor seja uma relação entre duas pessoas com igual combinação de transmissão de afeto. O amor tem a ver com a entrega ao outro, entrega de você. Do que lhe é importante. A expressão "fazer algo com amor" cai bem aqui. As pessoas podem se fechar tanto não deixando sair nada, como podem deixar sair tudo não saindo nada importante.
Mas tudo isso é foda, porque o amor é bonito pela sua virtualidade, por depender de coisas sutis mas profundas, e não de garantias pré-dadas. Uma ex-namorada minha dizia que "amor é pra vida toda, portanto, se não foi pra vida toda não foi amor". Resolve todas as equações do mundo, mas é falso e todo mundo sabe, inclusive ela. Acredito (sim eu sou piegas) que o amor é o momento em que você se sente no melhor lugar do mundo por causa daquela pessoa ali. Ou daquelas. (eu falo de amizade e não poligamia) Isso não acaba, mas vai e volta. Necessita de ser atualizado em momentos e situações diferentes, porque não é uma relação de almas eternas. É uma relação entre seres humanos contingentes e fracos.
"Exigir mais desse amor" é uma dessas sentenças que eu não entendo muito. Porque acho exigir algo estranho à minha idéia (sim, um tanto psicanalista e naturalista, de um passado bom) de amor. A questão do amor é a recíproca. Acho que quando o filme de comédia romântica americano ridículo funciona, rola uma sensação de completude. Você viu "Penetras Bons de Bico"? O casal principal transmite um pouco a idéia de que haveria uma necessidade dos dois viverem juntos para frente, o que nunca, mas nunca mesmo é verdade."
Bom... e então, o que eu respondo? Não sei. Preciso pensar.
Mas eu gosto de pensar escrevendo.
O que eu queria dizer com a minha provocação inicial era o seguinte: amor virtual, pra mim, é só o amor platônico, aquele que só acontece no campo do imaginário. Mas me vejo forçado a questionar essa idéia. Porque amor que não acontece, não é amor. É só uma paixãozinha que nunca sai da vontade, que nunca se concretiza. Fica aquela coisa distante, fria, covarde. Até casais virtuais que se conhecem pela Internet acabam por se encontrar fisicamente no mundo real, e muitos deles se casam e vão morar juntos. O que é, então, um amor virtual? Não sei. Mas acho pouco.
Fico cansado de tanto ver gente que fala muito e não faz nada. Que diz que gostaria de fazer tal coisa mas passa a vida reclamando de bar em bar sem nunca tomar uma atitude na vida. Dizem que gostam de uma coisa, mas nunca se aproximam - apenas observam, distantes, como se a vida fosse só uma vitrine no shopping. Eu acho isso o fim da picada. Pra que é então que serve a vida? Se não for para amar, se apaixonar, se dedicar, então ela é muito chata. Não importa o que seja: tem que haver paixão, amor, entusiasmo, vontade. Eu dou muito mais valor a um corredor de stock car ou a um folião de trio elétrico do que a esses intelectuaizinhos de boteco que passam a vida se arrastando de existencialismo em existencialismo, lendo livros e vendo filmes, totalmente alienados do processo de viver.
Essa virtualidade do querer, essa preguiça de ser feliz, é tudo um grande sintoma do nosso século. Não sei explicar exatamente como nem por que nem se existe cura para isso, mas estou pensando no assunto há muito tempo. Tudo o que sei é que a única coisa que muda sozinha com o tempo é o clima. Chove, venta, o sol aparece, a noite cai, neva - a natureza não pára nem um segundo. Mas todo o resto, nossas relações, nosso emprego, nossos hobbies - tudo isso depende da gente. Tem que querer fazer e tem que fazer também. Querer não é poder. É só uma encheção de saco.
Quanto ao amor ser para sempre, eu também discordo. Acho que as pessoas se repetem isso para acreditar em "algo mais", que seja eterno. Mas nada é eterno na natureza. Bom, talvez a estupidez humana. Mas o amor, não. Porque o amor é feito de pessoas, de lugares e de momentos, e tudo isso muda o tempo todo. Você pode amar uma pessoa hoje, e um belo dia descobrir que não ama mais - porque ela se tornou outra pessoa, e você também se tornou outra pessoa.
Como diria o grande filósofo Odair José: "Felicidade não existe, o que existe na vida são momentos felizes".
Um jeito bem estranho de beber...
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Ao longo da minha vida eu já vi muitas pessoas esquisitas bebendo coisas
estranhas de maneiras bastante inusitadas.
Agora, isso aqui... Isso aqui eu nunca ...
5 comentários:
Putz,
foda essa aqui embaixo, mas que doeu doeu..
abração!
"Eu dou muito mais valor a um corredor de stock car ou a um folião de trio elétrico do que a esses intelectuaizinhos de boteco que passam a vida se arrastando de existencialismo em existencialismo, lendo livros e vendo filmes, totalmente alienados do processo de viver."
Eu não vim para comentar esse post. Vim para comentar um outro que li no GoogleReader mas que não está mais aqui. Cadê aquele post? Hein? Hein?
Que invasão de privacidade! O outro post foi deletado por falta de pertinência, mas se você quiser e ainda tiver ele aí eu publico de novo com prazer!
Viver dá preguiça... mas é só de vez em quando : )
fi, tudo o que eu precisava ler hoje tá no seu post aí... quanto a tomar atitudes, vou deixar pra semana que vem...
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