10 de março de 2008

Um dia na Igreja


Hoje meu pai me convidou a ir com ele até uma igreja. Era a missa de sétimo dia de um tio dele, que faleceu recentemente (há 7 dias atrás, para ser mais exato). Apesar de ser pagão e ateu convicto, aceitei o convite, em nome da boa vontade entre os cultos religiosos e da curiosidade científica.

Foi uma experiência interessante. A igreja é um lugar grande, iluminado, cheio de banquinhos de madeira. Alguns sacerdotes paramentados lêem trechos de um livro de histórias bem grosso, semelhante a O Senhor dos Anéis. Também tem umas rezas que todo mundo sabe de cor e declama junto. A parte chata é que você você tem que levantar, depois sentar de novo, depois levantar de novo, ajoelhar, levantar, sentar... deve ser um exercício saudável, mas se eu soubesse que ia ter isso eu tinha ido de shorts.

Como eu fico entediado muito rapidamente, e sou um entusiasta da arquitetura, fiquei reparando na decoração do lugar. Ao contrário das igrejas que eu já tinha visto em Ouro Preto, essa era muito bonita e limpa, com um estilo minimalista que me lembrou os anos 1960. As paredes eram brancas, e tinha uns paninhos roxos pendurados em todos os cantos, dando um clima aconchegante. Meu pai me explicou que eles só fazem isso na quaresma, e que ali normalmente ficam umas estátuas. Sinceramente, eu acho que eles deviam manter os paninhos.

Nas paredes laterais da igreja também havia uma decoração meio pop art: uma história em quadrinhos sobre um homem que carregava uma cruz de madeira. O nome dele era Jesus, e deve ser um cara importante para os cristãos, porque o padre não parava de falar nele.

Para meu alegre espanto, depois de investigar o decór do local eu descobri que, além de velhinhas com o cabelo meio roxo, também existem várias gatinhas que freqüentam a missa. Pensei que nunca ia ter chance com elas, mas de repente todo mundo começou a se abraçar e beijar, e várias delas pegaram em mim e beijaram meu rosto. Me dei bem, melhor do que em qualquer bar idiota que eu costumo freqüentar. Fiquei me perguntando se aquelas garotas todas obedeciam as ordens do Papa e só transavam sem camisnha. Para o bem delas, espero que não.

Um dos pontos altos do culto foi a hora do lanche. Lá pelas tantas os sacerdotes começaram a distribuir um biscoitinho branco para a turma. No começo eu pensei que eles deviam ser muito gostosos, porque logo se formou uma fila enorme para comê-los; mas depois reparei que eles estavam molhando os biscoitinhos em algum líquido dentro de uma taça. Talvez eles fossem mesmo gostosos, só que meio duros, e estivessem sendo molhados para facilitar a mastigação. Afinal, quase todo mundo que estava lá era bem velhinho e tinha os dentes fracos. Mas fiquei curioso para saber no que eles molhavam os biscoitinhos. Não parecia ser leite com Nescau.

De repente eu olho para o palco e vejo o cara despejando VINHO dentro das taças. Gatinhas me beijando, vinho rolando solto, e ainda por cima um cara começou a tocar uma música meio chata no violão... Eu estava me sentindo em uma festinha dos tempos da faculdade! Por isso, pretendo voltar mais vezes à igreja para beber vinho, comer biscoitos e paquerar as gatas. Espero que toque uma música mais dançante da próxima vez!

Finalmente, muitas sentadas e levantadas depois, a missa acabou, e ficamos na porta da igreja cumprimentando os familiares. O padre havia lido uns trechos do Livro de Daniel, por isso algumas pessoas me disseram "adorei seu livro, sábias palavras".

No final, uma das gatinhas, que eu não faço a menor idéia de quem seja, veio até nós e se despediu apertando a mão de um por um. Era óbvio que ela não conhecia nenhum de nós, e só fez isso por educação cristã. Achei isso bem legal, as pessoas nessa tal de igreja são bem simpáticas e parecem razoavelmente satisfeitas com a vida, ao contrário das pessoas que encontro nos lugares que freqüento.

Se bem que, até onde eu sei, o pessoal da Obra não é homofóbico, usa camisinha, e nunca acendeu uma fogueira com uma pessoa em cima.

8 comentários:

Anônimo disse...

tah otimo isso, broder. issos, no plural.


=*

laura, fincando o pé na areia

Anônimo disse...

Tá inspiradão hein Mr Perna? Muito foda!

Anônimo disse...

e eu... que não tive educação religiosa, sou de família judia e choro em missa!?

estou condenada ao fogo eterno?
:P

Mario C. disse...

Se for gata, a galera te perdoa.

Anônimo disse...

Concordo com as sabias palavras do Mario ai.
Perna, de fato nunca tinha pensado que a missa se parece muito com as calouradas lah da faculdade. Ao menos elas são tão enfadonhas quanto.

Rafa Pros disse...

Muito legal, perna.
Ficou fodasso, a gente nao sabe se e ingenuidade ou cinismo (na duvida é cinismo, hehe). Me lembrei da missa de setimo dia de minha avo tb, a igreja inclusive era bem parecida com essa, inclusive com as historia em quadrinhos (Igreja de santana, na serra), mas nao tinha gatinhas, o que nao é um detalhe.
Além disso, lembrou tb um texto muito fino do rubem braga. Nesse texto (q esqueci o nome mas vou procurar) ele descreve bem no estilo q vc escreveu, a realizacao de uma missa. Mas o mais foda, é q o texto é escrito em repudio a uma publicacao da epoca que cobrava a intervencao da policia em terreiros de candomblé e ai, ele satiriza a realizacao da missa, e cobra ao final a intervencao da policia tb..isso na decada de 40..

marcelão¹³ disse...

fantástico!

só um comentário: ou você é pagão, ou ateu... os dois juntos não dá.

lowproflavia disse...

sensacional. e beijo pros cordeiros que tiraram o pecado do mundo...
;-)