4 de março de 2008

"A Nuvinha Que Queria Chover"


Era uma vez uma nuvinha, que vivia sozinha no céu. Ela era feita de água, e isso era tudo que ela tinha no mundo. A nuvinha passava seus dias flanando pelo céu, arrastada pelo vento, seu destino.

Sempre que a pequena nuvem via alguém que parecia estar precisando de água, ela começava a chover. Mas parecia que ela nunca fazia nada direito. Era só a água cair no chão que as pessoas começavam a reclamar da chuva. Corriam para debaixo das marquises, se escondiam nos seus guarda-chuvas da Madonna (aqueles brancos), sob seus chapéus, capas, sobre-tudos. E praguejavam contra a pobre nuvenzinha.

- Eu só queria ajudar! - ela exclamava.

Vagando pelo céu, ela continuava procurando lugares e pessoas que precisassem de sua água. Não que ela sentisse algum prazer especial fazendo isso. Mas como ela era toda feita de água, e não podia ser outra coisa no mundo além de nuvem, não havia mais nada que ela pudesse fazer além de chover nas pessoas. E, já que era assim, pensava ela, então que pelo menos a chuva fosse uma coisa boa.

De vez em quando ela até acertava. Sobrevoava um sertão árido e vazio, e chovia o máximo que podia enquanto estivesse ali. As pessoas ficavam felizes no começo, mas a nuvinha sabia que aquilo não ia resolver o problema delas. Ela queria poder ficar ali o resto da vida, chovendo, mas o vento sempre vinha e levava ela embora.

Mas essas ocasiões eram muito raras. Na grande maioria das vezes, era sempre a mesma coisa. A pobre nuvinha começava a chover, achando que estava fazendo bem para as pessoas, e tudo que recebia em troca eram xingamentos. Sua chuva, que ela chovia com tanto carinho e boa vontade, deixava as pessoas assustadas, e elas logo se protegiam com suas capas de plástico, seus enormes guarda-chuvas pretos e pontudos, reclamando e praguejando contra a nuvem e contra a chuva.

Isso deixava a pobre nuvinha muito chateada. Ela não podia ser mais nada além de uma nuvem. E não tinha mais nada para doar do que a sua chuva. Às vezes, na calada da noite, sozinha no céu, ela se perguntava se teria que passar o resto da vida acumulando aquela água toda, sem nunca poder compartilhá-la com as pessoas lá embaixo. Sofria ao pensar que teria que vagar sozinha pelo céu, ao sabor do vento, sem nunca encontrar um motivo para existir, e sem nunca poder chover sua chuva, que era tão bonita quando virava arco-íris, e que as plantinhas agradeciam tanto. A nuvinha pensava, e chorava, mas ninguém percebia, porque suas lágrimas se misturavam à chuva, e viravam uma coisa só, caindo do céu, uma dádiva que ninguém queria receber.

Até que um dia a nuvem chegou no mar.

3 comentários:

Unknown disse...

É Baby que chama!

Clara Averbuck disse...

:~~

Nicolau disse...

Não deixe de conferir o formidável episódio de Pocoyo - Una pequeña nube... Lá pros 3:45, vcs podem ouvir o peculiar som de uma nuvem llorando.

Quem gosta de chuva é a Shirley Manson!