16 de fevereiro de 2008

Campus Party 2 - A Missão

Passado o mau humor e um pouco do cansaço, já dá para falar mais claramente sobre o Campus Party. Não visitei a área aberta com calma porque estava parecendo o Playcenter (em termos de utilidade e de público), mas a área VIP certamente teve algumas coisas interessantes e dignas de nota.

Antes de mais nada, o mais importante em eventos como esse foi alcançado: o climão. Acho que essa é a coisa mais importante em qualquer evento desse tipo. Existe um clima específico, que eu não sei descrever direito, que acomete locais onde muitas pessoas e muitos computadores se ligam - em rede e pessoalmente - para fazer coisas. Pode ser jogar Quake, pode ser postar em blogs, fazer música, ou tudo isso ao mesmo tempo agora. Não sei se é a energia dos computadores ligados, a adrenalina das pessoas, ou tudo isso e muito mais. Só sei que é algo que eu já senti poucas vezes e em poucos lugares: lanhouses de madrugada, festivais de música eletrônica (em cima e atrás do palco, nunca na pista de dança), laboratórios e estúdios de vídeo digital e animação, e festivais de hackers com concurso de criação de demos.

Esse climão, no Campus Party, atinge níveis assustadores. É muita gente, é muito computador, e muita coisa pra fazer. Tem o pessoal dos casemods, os postadores de blogs, os jornalistas, os produtores musicais e de vídeo, os programadores, os designers de jogos, as celebridades virtuais - tudo isso acontecendo ao mesmo tempo. Me diverti muito mais andando por entre essas pessoas do que efetivamente fazendo alguma coisa, vendo alguma palestra ou coisa do tipo.

Em geral, o que me sobra de bom dessa experiência foi a sensação que eu tive de que a internet, especialmente no Brasil, está finalmente virando uma coisa viva e representativa. Ela não é mais um espaço pioneiro desbravado por acadêmicos, engenheiros de software e profissionais de outras áreas tentando compreender seu funcionamento. Ela é hoje desenvolvida e aprimorada por pessoas que a conhecem, sabem de suas capacidades, e utilizam de seu poder para fazer coisas novas, interessantes, instigantes, comunicativas e diversas.

É o caso do simpático site Flickr, provavelmente a maior derrota que o Google já teve em sua trajetória. O PicasaWeb nunca vai ser o Flickr. Por que? Sei lá. Porque ele é meio chato. E sem graça. O Flickr é melhor e pronto. O Flickr é branco e tem uma bolinha rosa e uma bolinha azul. E a dona dela, a criadora do esquema todo, é uma mulher legal que adora fotografia. O stand deles na área vip do CParty era simples: tinha um espelho e um monte de perucas e chapéus coloridos (mas só com as duas cores do site), e tinha uns pufes. E uma brincadeira idiota: se você acertasse 5 bolas de plástico na cara de um amigo seu, ou vice-versa, os dois ganhavam 1 ano de Flickr grátis. Simples, mas era a coisa mais divertida que tinha pra fazer no andar. O stand ficou movimentado o tempo todo que eu estive lá, e todo mundo saiu com uma idéia muito simpática do site. Parece simples e fácil de fazer isso, mas se fosse assim tão fácil a Microsoft e o Google já teriam feito.

Também foi legal ver a cara das pessoas. Muita gente com cara de normal. Antigamente esse tipo de evento só tinha gordinhos branquelos de óculos e cabelo ensebado. Hoje, não. São homens e mulheres, de tudo quanto é faixa etária (embora a maioria tivesse mesmo entre 25 e 35 anos). Gente com vários tipos de cabelo, roupa, compleição física, etnia... enfim, gente, pessoas normais, de vários tipos, todas ali juntas usando seus notebooks, alguns com Windows, outros com Mac ou Linux, cada um na sua e curtindo a festa. Não vi nenhuma camiseta de Star Wars nem de Senhor dos Anéis. Os nerds andam bem vestidos hoje em dia.

No geral foi isso: pessoas legais fazendo coisas legais e compartilhando isso pela web. Espero que seja esse o futuro da Internet.

3 comentários:

Nicolau disse...

Só uma chateação neste tópico que tanto importuna minha mente:

Nenhum engenheiro de software jamais desbravou nada no funcionamento da Internet, ou de qualquer coisa de, digamos, “baixo-nível”. Engenheiro de software apenas estuda gerência de projetos que envolvem a criação de software. Eles procuram a melhor forma de se especificar, desenvolver e dar manutenção em sistemas encomendados por clientes que entendem ainda menos do funcionamento das máquinas. Sim, alguns engenheiros acham que esta denominação é uma usurpação do termo “engenharia”.

Quem desbravou a Internet foram os engenheiros eletricistas, eletrônicos, e companhia limitada. Foram ainda os programadores, cientistas da computação, matemáticos, físicos, técnicos, hackers e outros xeretas diversos... Foram os escovadores de bits!... Engenheiro de software gosta de “encapsulamento”, e não de ver aquelas letrinhas verdes da Matrix voando dum lado pro outro...

Recentemente eu andei escrevendo um pouco sobre a falta de crédito e espaço e atenção (não-)dada aos desenvolvedores de todas essas tecnologias tão aclamadas em eventos como o Campus Party...

Nicolau disse...

...E eu também não tenho certeza de que as pessoas desenvolvendo hoje o conteúdo da Internet (tanto engenheiros e cientistas quanto os não-técnicos) tenham uma boa noção da capacidade da Internet, e de suas possibilidades. Eu sinto é que existe um esforço pra se tentar restringir o funcionamento de coisas como blogs e wikis, querendo dizer o que se deve ou não escrever ou o que se pode citar, ou quando utilizar... Estamos todos perdidos, atordoados pelas vastas possibilidades, tentando nos agarrar em alguma limitação mais familiar.

E tem muita tecnologia que eu conheço que não vejo sendo aplicada na prática. Um verdadeiro desperdício... Isso vai do gopher e IRC ao IPv6 e SVG.

Anônimo disse...

"Os nerds andam bem vestidos hoje em dia."

Isso porque você nunca foi ao EIRPG... eu fui quando lançamos o Varna e, francamente, não tenho a mínima vontade de voltar.

Por lá reinava o cosplay e as camisas do Blind Guardian.