15 de outubro de 2007

Só a noite é que amanhece


Quando eu era jovem e chegava em casa às 7 da manhã, sóbrio e cheiroso, eu achava muito ruim ir dormir de dia, com aqueles passarinhos cantando, o sol iluminando o quarto através da persiana. Não eram só a luz e o barulho que me incomodavam, mas havia também um sentimento de culpa de ir dormir na hora em que todo mundo acorda para trabalhar.

Obviamente, o tempo cuidou de mudar isso.

É muito mais seguro andar pelas ruas de manhã do que de madrugada. Os ônibus passam com mais freqüência, e assim sei que meus amigos e amigas voltaram para casa com tranqüilidade. Os playboys bêbados bateram suas Mercedes entre meia-noite e quatro da manhã, e a partir das seis o trânsito já é bem mais seguro.

Mas, além de tudo isso, existe agora um sentimento de redenção que suplantou há muito aquela culpa que eu sentia. Quando entro no banho para tirar o cheiro de cigarro antes de ir dormir, abro a janela e fico olhando o sol nascer por trás dos prédios, iluminando a cidade e refletindo nas janelas. Os passarinhos cantando, os ônibus passando cheio de gente indo trabalhar - tudo parece uma alegre sinfonia da cidade acordando, renascendo depois de uma madrugada assombrada, cheia de crimes, acidentes, brigas conjugais, pesadelos e filmes ruins na televisão.

Quando os vampiros, fantasmas e demônios voltam para suas casas, o mundo parece mais bonito e mais seguro. As coisas voltam a fazer sentido. E dá vontade de acordar de novo.

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