30 de outubro de 2008

Um dia como outro qualquer.

Hoje foi um dia típico na minha vida.

Acordei às 7 da manhã, depois de 4 horas de sono. Tinha que esperar o entregador da máquina de lavar roupa que ia chegar na parte da manhã, "no máximo 11 horas" disse o vendedor. Enquanto esperava, resolvi entrar na internet. Metade dos sites que eu queria acessar, incluindo a Wikipedia e o YouTube, não estavam entrando. Problemas no Virtua.

A manhã passou lenta enquanto eu esperava a entrega. Subitamente, toca no celular um número desconhecido. Atendo, e é uma chamada a cobrar. Só podia ser o entregador. Atendo, mas ninguém fala. Ligo de volta para o número. Duas vezes. Ninguém atende. Desço até a portaria e vasculho a rua. Tem uma kombi e um caminhão estacionados. Pergunto em ambos. Nenhum dos dois era para mim.

Esperei o entregador até o meio-dia, quando resolvi sair para almoçar - ele podia me ligar no celular se chegasse. Fui até o banco tirar dinheiro para almoçar e pagar o entregador, e descobri que minha conta no banco estava negativa.

Liguei para meu pai e pedi o dinheiro do entregador emprestado. Ele estava ali por perto, e nos encontramos para almoçar. Meio-dia e dez, todos os restaurantes da região estavam lotados. Dei sorte: peguei uma fila de apenas 15 pessoas, e almoçamos em silêncio na mesa de outros dois caras.

Voltei para casa e esperei o entregador até as 15:00. Não dava mais para esperar: saí de casa e peguei um ônibus até o centro da cidade, onde tinha que buscar meus pratos de bateria para um ensaio às 18:30. Trânsito horrível, ônibus lento, um calor insuportável. Apenas mais uma quarta-feira normal em Belo Horizonte.

Chego no estúdio, meu amigo que trabalha lá não estava. Abre a porta o sócio dele, que eu nunca tinha visto mais gordo. Ele me leva até o estúdio, onde abro a porta e arruino a gravação que um menino estava fazendo. Ela larga e guitarra e tem que começar tudo de novo, enquanto eu saio envergonhado do local com uma tonelada de círculos de bronze, níquel e cobre.

Desço do ônibus escorrendo suor, e no caminho de casa, carregando o peso dos pratos, sinto meu celular vibrar. É minha esposa, querendo saber se eu não ia ao ultra-som com ela. Digo que estou chegando em casa, e ela me pergunta se eu comprei os DVDs para gravar o vídeo. Sem querer nem saber se eu tinha ou não dito que ia fazer isso, corro até uma papelaria para comprar os malditos disquinhos. Os atendentes da loja são incrivelmente lentos, assim como é complicado o sistema da loja - envolvendo carimbos e outras coisas que eu achava que só existiam em livros do Kafka. Um cliente grande e lento atrapalha minha passagem.

Chego em casa sem fôlego, transbordando suor pelas roupas. Jogo os pratos no sofá da sala, e saio com minha mulher para ir até a clínica. Ela resolve ir de ônibus para não ter problemas para estacionar o carro, e pegamos um SC02A lotado. O coletivo dá uma volta enorme pelo centro da cidade, e revisito pela janela vários lugares por onde tinha acabado de passar. 45 minutos depois, chegamos na clínica, que ficava a 30 minutos de caminhada da nossa casa.

Entro na sala de espera, e sinto um alívio: ar condicionado bombando. Sento-me na cadeira acolchoada, fecho os olhos, e deixo-me levar pelo ar frio. Penso em coisas boas. Vida simples. Essas babaquices.

30 segundos depois, toca o celular. É o entregador.

Discuto com ele no telefone dizendo que o vendedor da loja é quem tinha marcado o horário. Ele diz que vai levar a máquina de volta à loja. Gastando todo o resto da minha paciência, não mando ele tomar no cu nem nada do tipo. Desligo o celular e tento me concentrar no ultra-som. A atendente diz que vai demorar pelo menos 2 horas. São 17:45 e eu tenho um ensaio às 18:30.

Toca o celular. Mesmo número, outro entregador. Diz que podem esperar meia hora. Decido resolver logo o problema. Deixo minha mulher sozinha na clínica e corro até o ponto do ônibus. Hora do rush. Trânsito parado. Quando chego perto da minha casa, o ônibus dá uma volta sinistra e vai parar no Parque Municipal. Pulo da porta e saio correndo na Afonso Pena em pleno fim de tarde. Confiro mentalmente se ainda tenho algum dinheiro: só sobraram os 30 reais do entregador e alguns trocados. Não dá para o taxi, mas dá para outro ônibus. Chego na rua, e vejo o maldito subindo lentamente. O sinal fecha, corro por entre os carros, dou sinal, o motorista arranca. Sigo o carro até o sinal fechado, bato na porta, peço pelo amor de Deus - pela primeira vez na minha vida - e ele cede. O trânsito está uma merda. Ligo para o entregador. "Estamos aqui esperando."

Desço do ônibus muito tempo depois, vindo de um engarrafamento brutal. Já estou atrasado para o ensaio. Chego no prédio, não vejo entregador nenhum. Ligo para eles: "estamos chegando". Espero até as 19:20. Eles chegam, jogam a lavadora no canto, e vão embora em 2 minutos.

Chego no meio do ensaio, e ninguém começou a tocar ainda. O ar condicionado não dá conta de nós 6 dentro da salinha. Passo 1 hora tocando bateria, escorrendo suor, exalando odores inimagináveis. Camada após camada de suor sob a minha camiseta.

No fim do ensaio, discussões sobre problemas de horário e ensaios, mas não consigo ouvir nada. Minha cabeça está a ponto de explodir.

A noite cai mas o calor continua. Encontro minha esposa chegando do exame e temos tempo de comer um sanduíche rápido. Minha cabeça dói muito, e nem sei dizer por que - poderia ser o calor, o stress, a fome, a sede, ou tudo isso junto. Como, bebo água, mas nada adianta. Tento rir dos eventos malucos do dia, mas nada resolve. Decido então testar a maldita máquina de lavar. Já que deu tanto trabalho, pelo menos quero dormir com aquele cheirinho de roupa limpa no varal.

Descobri que deixei a geladeira desligada por duas horas. Religo tudo, coloco um T na tomada, e vamos em frente. Encho a máquina de lavar com roupas pretas, programo tudo, ligo tudo, e aperto o "on/off". Ela liga e começa a encher o tanque com água.

Sento-me à mesa e faço um lanche rápido onde tento colocar em perspectiva todas as maluquices do dia. Depois de comer, vou até a máquina, e vejo que a área está toda inundada. Algum defeito no aparelho fez com que ele não parasse nunca de encher. Vou ter que ligar para a loja, reclamar, chamar a assistência técnica, o diabo. Desligo tudo e tento fazer alguma coisa para esvaziar o tambor da máquina. Ligo o modo "centrífuga", aperto o botão, e ouço a água vindo pelo cano. Pelo menos alguma coisa na máquina está funcionando.

Quando a água começa a jorrar dentro do tanque, começa também um refluxo no ralo do banheiro de empregada. A água de esgoto, impulsionada pelo escoamento da máquina de lavar, jorra para cima, inundando mais ainda a área de serviço, não mais com a água cristalina e suja de sabão em pó que vinha da máquina, mas com uma água preta e fedorenta saindo do ralo.

Desligo a máquina com um suspiro. Pego os poucos panos de chão que temos em casa e evito que a água se espalhe para dentro da cozinha. Fecho tudo, apago as luzes. Chega. Cansei. Desisti.

Vou até o banheiro e tomo um banho gelado, morrendo de medo de tomar um choque ou algo do tipo. A dor de cabeça continua forte.

Esgotado e à beira de um ataque de nervos, caio na cama, luz apagada, meio molhado do banho, coberto só pela toalha. Tento me concentrar no vazio, na escuridão, apagar e dormir o mais rápido possível. Amanhã vai ser um novo dia, e tudo vai dar certo.

Olho no relógio. O dia ainda não acabou.

A campainha toca às 23:00. Abro a porta, e vejo uma vizinha. Aos seus pés, um rio de esgoto, cuja nascente é a porta da minha área de serviço, as margens são as paredes do corredor do nosso andar, e termina em uma caudalosa cachoeira de mármore em direção ao andar de baixo.

Pano de chão e balde em mãos, ajoelho-me na escada e começo a secar um degrau após o outro. Passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola. Muitas e muitas vezes além dessas aqui descritas.

Agora são 1 da manhã. Estou acordado há 18 horas. Meu estômago está roncando. Minha cabeça dói como se tivesse uma bola de sinuca dentro. Não me lembro direito do que aconteceu. Só sei que eu só queria ser um cara normal. Eu só queria fazer tudo direitinho e deixar todo mundo feliz.

Mas eu nunca aprendo.

4 comentários:

Anônimo disse...

e tem gente que ainda não acredita que vc é azarado!

Unknown disse...

sinto muito amigo. shit happens.

Rafael e Angela disse...

argh
tá melhor agora?

Rafa Pros disse...

Ave marilia...
só uma coisa, tenha sempre muitos panos de chão...é o máximo q se pode fazer...

E os entregadores em geral procuram entregar quando vc não tá em casa.