10 de outubro de 2008

A crise monetára internacional

Eu falo, falo, falo, mas ninguém escuta.

Cansei de avisar o Henry Paulson pra tomar cuidado com os créditos podres. Ou melhor, créditos pobres. Eu dizia a ele: "Hank, meu filho, não deixa esse povo emprestar dinheiro como se não houvesse amanhã!" Mas não. Garoto liberal, deixou as empresas fazerem o que quisessem. E deu no que deu.

O problema do liberalismo é que, assim como todos os sistemas de governo e economia do mundo, sua linda teoria esconde uma intenção nefasta. A idéia de deixar o capitalismo trabalhar livre das amarras do governo parece ótima, mas inclui uma cláusula muito pequenininha no final do contrato que quase ninguém lê. É que quando as empresas fazem uma merda qualquer - sem querer ou de propósito - quem tem que sair correndo para salvar a economia é o Governo. Ele tapa os buracos deixados pelas instituições financeiras que agiram de maneira displicente usando dinheiro público. E nunca é na forma de empréstimo. É sempre uma doação.

Muito se discutiu na semana passada sobre o "pacote de ajuda" do governo dos EUA para amenizar a crise. Como assim "ajuda"? As empresas estão a ponto de falir, e o governo pega dinheiro público para cobrir o rombo? Exatamente. Mas claro que existem bons motivos para fazer isso: evitar desemprego em massa, evitar o efeito cascata das quebras, etc. Quando o PROER ajudou os bancos no Brasil, eu compreendi que, se isso não fosse feito, ia ser uma quebradeira que ia acabar afetando diretamente as contas bancárias da maiorias das pessoas, e ia ser uma merda. Mas lá se foi o dinheiro... e no fim das contas, quem pagou isso foi a gente mesmo!

O que eu acho engraçado é que esse dinheiro, que teoricamente estaria ajudando os pobres, sai todo dos cofres públicos - e não é reposto depois. Os governos não fazem um empréstimo de 2 bilhões de dólares às empresas: eles enfiam o dinheiro no ralo para evitar que o resto da água vá embora, e por ali mesmo ele fica. Nunca mais se ouve falar nele.

Com pacote ou sem pacote, todo mundo concorda que essa é a maior crise econômica desde 1929, e todo dia o circuit breaker da BOVESPA é ativado mais de uma vez. Eu nunca tinha visto isso acontecer na minha vida, e agora isso acontece várias vezes por dia. É de arrepiar.

Eu que já passei pelo Plano Cruzado e coisas do tipo, ainda fico com aquele medo latente de que, a qualquer momento, a inflação pode disparar e os preços dos alimentos vão ficar malucos. Se isso acontecesse hoje, acho que seria ainda pior: tanto as pessoas quanto o capitalismo são muito mais selvagens hoje em dia do que eram em 1984. Por incrível que pareça.

O resultado final dessa crise vai ser o mesmo de sempre: as empresas vão lucrar, os investidores vão lucrar, os governos vão fingir que fizeram alguma coisa para ajudar seus eleitores, e os trabalhadores vão continuar pagando o pato. No Brasil, esse pato já consome 40% dos salários, e não existe absolutamente nenhuma esperança disso melhorar, seja no futuro próximo ou longínquo.

Enquanto isso, o soberano de nossa nação, impávido colosso, acalmou o mercado com suas palavras de sabedoria. Segundo Inácio,

"o papel do Presidente é passar para a sociedade a serenidade que a sociedade precisa para continuar acreditando no país. (...) Eu continuo otimista que a gente vai ter um grande Natal no Brasil. (...) É como se nós tivéssemos tomado uma vacina contra uma doença e ela está demorando para chegar ao Brasil."
Enquanto isso, nos EUA, o nosso velho amigo Paulson está tentando arrumar algum jeito de "acabar" com a crise, minimizando o impacto dela sobre seus amigos ricos. Ele já se reuniu com seus brothers de Wall Street, e juntos else tramaram alguns planos. Paulson, que era um dos donos do Goldman-Sachs, incluiu em seu plano, aprovado pelo Congresso, a seguinte norma, na Seção 8 do texto:
“Decisions by the Secretary pursuant to the authority of this Act are non-reviewable and committed to agency discretion, and may not be reviewed by any court of law or any administrative agency.”
Mentalidade típica de um bushista.

Enquanto isso, a classe média continua sonhando em ficar rica. Todo mundo continua comprando R$ 100,00 de ações da Vale e jogando poker nos finais de semana. Ajoelhados na Igreja, pedem a Deus que os torne ricos - o que é tão eficaz quanto jogar na Mega Sena.

Bem, e por que diabos eu, que sempre estou no vermelho, gosto mais de coxão mole do que de filé mignon, prefiro cachaça a champagne, não tenho carro, nem ações, nem empresa, nem herança, estou me importando com essa crise financeira?

É que vocês não acham meio esquisito essa crise ter estourado tão próxima das eleições?

Deixa a gente pensando...

Um comentário:

Paula Ruas disse...

Oi perna!

Eu sempre acho que o problema começa com as pessoas. Eu sou uma pessoa que não tem cartão de crédito porque não tenho dinheiro mesmo e não gosto de adiar minhas dívidas. Mas conheço gente que se joga no cartão, mesmo sabendo que quando a fatura chegar não vão ter dinheiro pra pagar! E já tive um diálogo absurdo com uma menina que calcula o preço das coisas pelo preço da parcela ao invés de considerar o preço total.. ave..