12 de setembro de 2008

Aquelas conversas que era melhor não ter

Estou parado no centro da cidade enquanto o Pedro grava o som ambiente da rua para usarmos no meu filme. Aparece um guardador de carro, com uniforme da prefeitura, que faz sinais com a mão, sem fazer barulho. Nos afastamos do microfone e ele pergunta baixinho:

- Vocês estão fazendo medição de ruído?
- Não, estamos gravando o som para um filme.
- Ah... É trabalho mesmo, ou trabalho de faculdade?
- Trabalho, eu sou diretor.
- Legal... como chama mesmo, é... De pouca duração...
- Curta metragem?
- É, é curta?
- É curta.
- Aqui tem muito curta né? Tem até aquele festival de Ouro Preto.
- Tem sim.
- É, aqui tem muita televisão também. Tem um cara que tem um programa na Rede Minas que diz que conhece 50% das cidades de Minas Gerais. Mas eu acho que eu conheço mais do que isso. Eu viajava muito de caminhão para entregar banana, tem um japonês na minha cidade que tem uns 3 estádio de futebol de plantação de banana.
- Doideira.
- É... Se eu pudesse voltar no tempo, eu ia estudar. Eu gosto muito de ciência. Eu ia muito bem nas matérias de ciências, até em matemática eu ia mal, mas biologia, física, eu era bom. Gosto muito.
- Mas você não precisa voltar no tempo, é só pegar e estudar.
- Não dá. Eu casei, tive filho, aí eu tenho que trabalhar.

Me despedi, e perguntei o nome dele, mas já esqueci. O nome dele era Brasil.

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