Queria fazer um comentário sobre as eleições - tanto do Brasil quanto dos EUA - mas só faz sentido em inglês: I don't care about what is right. I want to know what are we going to about what is left.
25 de setembro de 2008
16 de setembro de 2008
14 de setembro de 2008
Quem é você?
HERMENAUT: Obviamente, não em Chicago, não como você a retratou, uma cidade cheia de "Jim Belushis", esses malditos idiotas com cabelos mal cortados que estão tão imersos em um estereótipo que nem exergam que estão fazendo isso. Mas você nunca desejou ser um desses caras, pessoas felizes que nunca agonizam pensando em sua própria identidade?
DANIEL CLOWES: Não! Eu sempre soube que eu só poderia ser como uma dessas pessoas se minha percepção da realidade estivesse comprometida, e eu não iria gostar disso. A única maneira de você se definir como pessoa é sendo contra certos tipos de pessoa. Você começa a negar todo mundo, e aí... quem é você?
12 de setembro de 2008
Aquelas conversas que era melhor não ter
Estou parado no centro da cidade enquanto o Pedro grava o som ambiente da rua para usarmos no meu filme. Aparece um guardador de carro, com uniforme da prefeitura, que faz sinais com a mão, sem fazer barulho. Nos afastamos do microfone e ele pergunta baixinho:
- Vocês estão fazendo medição de ruído?
- Não, estamos gravando o som para um filme.
- Ah... É trabalho mesmo, ou trabalho de faculdade?
- Trabalho, eu sou diretor.
- Legal... como chama mesmo, é... De pouca duração...
- Curta metragem?
- É, é curta?
- É curta.
- Aqui tem muito curta né? Tem até aquele festival de Ouro Preto.
- Tem sim.
- É, aqui tem muita televisão também. Tem um cara que tem um programa na Rede Minas que diz que conhece 50% das cidades de Minas Gerais. Mas eu acho que eu conheço mais do que isso. Eu viajava muito de caminhão para entregar banana, tem um japonês na minha cidade que tem uns 3 estádio de futebol de plantação de banana.
- Doideira.
- É... Se eu pudesse voltar no tempo, eu ia estudar. Eu gosto muito de ciência. Eu ia muito bem nas matérias de ciências, até em matemática eu ia mal, mas biologia, física, eu era bom. Gosto muito.
- Mas você não precisa voltar no tempo, é só pegar e estudar.
- Não dá. Eu casei, tive filho, aí eu tenho que trabalhar.
Me despedi, e perguntei o nome dele, mas já esqueci. O nome dele era Brasil.
11 de setembro de 2008
Sessão Nostalgia: MSX
O MSX foi uma tentativa da Microsoft japonesa de criar um console que unificasse os padrões de produção dos fabricantes de hardware daquela época (início dos anos 1980). Apesar de ser da Microsoft, o mercado americano e o inglês nunca absorveram o MSX, que fez muito mais sucesso no Japão e no Brasil (que é tipo o Japão). Foram produzidas cerca de 5.000.000 unidades.
O conceito era revolucionário para a época, e ajudou a fundamentar a indústria de computadores como a conhecemos hoje. Inspirado pelo sucesso do padrão VHS, o executivo Kazuhiko Nishi, da MS Japan, propôs um "selo de compatibilidade" MSX, que seria aplicado em produtos que seguissem as mesmas normas técnicas. Assim, vários fabricantes (como Sony, Philips, etc) começaram a produzir peças inter-operantes, que funcionavam com peças de outros fabricantes. Até então, o mercado de computadores pessoais era dominado por computadores fabricados por uma só empresa, cujas peças não tinham nada a ver com as peças dos outros fabricantes, o que tornava os custos de manutenção e atualização muito altos. No Brasil, haviam duas marcas de MSX: O Expert da Gradiente, e o Hotbit, da Sharp, ambos fabricados aqui mesmo no Brasil, e sendo comercializados em lojas de departamentos como o Mappin, a Sears e a Mesbla.
Enfim, mas o que importava mesmo eram os joguinhos!
Quando eu era criança, todo mundo tinha Atari, e eu tinha Odyssey. Por mais que o Odyssey fosse melhor, ter um video-game que ninguém mais tinha era muito esquisito e me deixava com um sentimento de outsider muito grande. Finalmente quando conheci o MSX esse sentimento foi embora, porque os jogos dele eram tão melhores que os do Atari que não só eu perdi a vontade de ter um Atari como eu também perdi a necessidade de ter amigos. Os jogos do MSX supriam todas as minhas necessidades mentais, psicológicas, sociais e espirituais.
Muita gente não sabe, mas vários "franchises" famosos de video-games, alguns deles na ativa até hoje, nasceram na plataforma MSX. É o caso por exemplo de Metal Gear Solid, Castlevania, Contra e Final Fantasy.
Depois de passar meses entediado com os jogos da atualidade, como Doom 3, NFS e outras abobrinhas, tive a luz de baixar novamente um emulador de MSX e relembrar alguns dos grandes clássicos da minha infância.
Tudo começou com Hero, um clássico do Atari que tinha uma versão MAX com gráficos melhorzinhos. Era o cartucho que vinha de brinde no Expert da Gradiente e por isso foi jogado à exaustão. Depois vieram outros cartuchos, e finalmente entramos na era magnética, quando meu pai comprou o toca-fitas do Expert! Mas até lá, foram horas e horas passadas jogando Hero, que tinha um sabor especial porque, graças ao livro do Jules Verne e ao disco do Rick Wakeman, eu sempre fui obcecado com "Viagem ao Centro da Terra".
Na categoria "jogos de navinha", haviam dois grandes clássicos, um de orientação vertical e outro horizontal. Na categoria vertical (i.e. "imitações do River Raid" para os invejosos fãs do Atari) o meu favorito de todos os tempos era o Zanac:
Aqueles olhinhos vermelhos davam uma aflição desgraçada, pareciam uma coisa meio orgânica tipo Jayce.
Muito antes do Steet Fighter II a gente já se divertia muito com joguinhos de artes marciais. No MSX, o rei de todos era o Yie Ar Kung Fu, da Konami. Os lutadores eram temáticos, e cada um tinha uma arma especial do kung fu. Foi assim que eu aprendi que coisas esquisitas como ferramentas de jardinagem e leques podiam ser usados como armas mortais. Mas as maiores brigas aconteciam mesmo fora do jogo, quando a gente tentava chegar a um acordo sobre como se devia pronunciar o nome do jogo!
Na categoria espacial, poucos jogos conseguiram, até hoje, superar a jogabilidade, o design, a trilha sonora e as emoções do lendário Texder. Descendente direto de animes como Robô Gigante, Pirata do Espaço e Zillion, Texder era uma aventura robótica cheia de ação e gráficos alucinantes. Uma espécie de filho do Super Mario 3 com o Macross!
Para não dizerem que o video game e o computador afastavam a gente dos esportes, preciso lembrar que a Konami tinha jogos dos esportes mais variados, e eram de longe os melhor jogos esportivos do MSX. A gente (eu e o meu irmão e nossos vizinhos e amiguinhos) gostava muito do tênis e do ping pong, mas o que a gente mais jogava, sem dúvida, era o Konami Soccer!
Para ficar inteligente, eu jogava muitos jogos de quebra-cabeças e coisas do tipo. Apesar do Castle Adventure ser o "must" na minha família, eu gostava mais do Eggerland Mistery, principalmente por causa do design dos sprites.
Outro dos meus favoritos, que eu passei muito tempo jogando, era o Arkanoid, da Taito, que sobrevive até hoje na forma de clones genéricos em Flash.
E eu não poderia terminar esse post sem colocar uma imagem do pinguinzinho mais simpático da história dos jogos! Antarctic Adventure!
10 de setembro de 2008
Das limitações ofensivas da língua portuguesa
Desde a mais tenra idade que eu ando em busca do xingo perfeito. Aquela palavrinha sagaz, curta, sonora, boa de ser gritada, que contenha o máximo de ofensas possível, mas digna de ser dita por um cavalheiro, por mais puto que ele esteja.
Os xingamentos comuns não funcionam muito bem. Primeiro porque já foram usados tantas vezes que perderam o efeito. Filho-da-puta por exemplo, desvia a atenção da ofensa à mãe do ofendido. Além disso, não vejo problema nenhum em uma mulher ser puta, e não acho que isso devesse ser uma ofensa. Viado não tem graça, primeiro porque é meio homofóbico, e segundo que viado é apenas um animalzinho inofensivo da floresta. Cagão é meio aleatório e genérico demais, e pode até mesmo ter outros significados. Aqui em BH por exemplo, "cagão" é um cara muito sortudo. Bunda-mole até que vai, mas é pouco ofensivo e a palavra é meio comprida, composta, com hífen ainda por cima. Corno tem o mesmo problema de filho-da-puta: redireciona a ofensa a outra pessoa. Além disso, se a mulher do ofendido o trai com outro homem (ou mulher), por que ele deveria ser ofendido? Ele foi traído, isso sim. É a vítima da história. Eu quero uma ofensa!
Um dia eu pensei que tinha encontrado o xingamento perfeito: burro! É sonoro e bom de gritar - todo mundo sabe que o U, quando bem gritado, é a vogal mais apavorante do alfabeto, seguido de perto apenas pelo I. O problema é que o burro é outro animalzinho super simpático que não tem nada a ver com o peixe. Além disso, aqui no Brasil, ser ignorante ou idiota é mais motivo de orgulho do que de vergonha, por isso não acho que seja um xingamento muito ofensivo.
Em momentos de dúvida ou crise, eu sempre apelo para os antigos. E eles sempre nos trazem palavras altamente inspiradoras. Canalha, por exemplo, é um ótimo xingamento. Filisteu é uma boa palavra, mas é um xingamento meio cristão demais para o meu gosto. O mesmo vale para Judas.
Eu sempre me recordo do Capitão Haddock, amigo do Tin-Tin: Flibusteiros! Bucaneiros! Marinheiros de água doce! O legal dos xingamentos dele é que têm a ver com a profissão dele, ou seja, ele resume o mundo ao trabalho dele e qualquer um que faça mal aquele trabalho ou atrapalhe seu trabalho é considerado um inimigo, um errado, um antagonista, e por isso as palavras para descrevê-los soam para ele como os piores xingamentos possíveis.
Pensando nisso concluí que o xingamento é uma coisa muito importante na vida de uma pessoa, pois expressa o que realmente somos lá no âmago do nosso ser. Quantas vezes não vi uma menininha fofinhas, de 18 aninhos, linda leve e loura em seu modelito Belvedere, em um acesso de raiva soltar os palavrões mais racistas, sexistas e fascistas possíveis. A maioria das pessoas, se ficar com raiva de uma pessoa preta, vai usar xingamentos como macaco, favelado, etc. Vai chamar uma mulher de burra, de gorda, e outras coisas do tipo, dependendo da pessoa ofendida no caso. É no ódio que se revela a real faceta do ser humano, e é no momento do acesso de fúria que sabemos quem é realmente uma pessoa.
Tudo muito bonito, mas até agora eu continuo sem um xingamento para mim.
Acho que a saída vai ser usar o barulho sem palavras. Estou pensando em comprar uma daquelas buzinas em spray, ou então um apito, que é mais portátil para andar na rua.
Mas sei lá. Não é a mesma coisa.
7 de setembro de 2008
Gnosis x Arcanum
É foda. Domingo à noite, um calor infernal, jogo do Brasil rolando, e eu aqui sentado pensando na diferença entre gnosis e arcanum.
Mas é um assunto muito importante para mim. Vou explicar.
Existiam na Grécia antiga vários cultos ou seitas chamados "Cultos de Mistério", ou "Mistérios". Esse é um nome genérico para as organizações para-religiosas da Grécia e arredores até que o cristianismo chegou e se estabeleceu como o sistema de crenças principal daquela região. Os Mistérios eram cultos fechados aos não-iniciados, que não tinham ortodoxia e nem escrituras. Provavelmente eram organizações semelhantes ao que hoje conhecemos como Maçonaria.
A palavra "mistério" vem do grego musterion, que era o plural de musteria (μυστήρια). Nesse contexto, essa palavra significava "ritual secreto" ou "doutrina secreta". O indivíduo que seguia um determinado Mistério era chamado de "myste", "aquele que foi iniciado", da palavra "myein", "fechar" - uma referência ao voto de segredo (fechar olhos e boca) que os iniciados tinham que fazer em relação aos conhecimentos que eram passados nos rituais.
Existe também na língua inglesa a expressão "mystery play", que eram performances da Europa medieval organizadas por membros das guildas de ofícios, que eram conhecidas por esconder os segredos de suas profissões do público em geral.
Existe uma confusão entre os Mistérios e aquilo que no Brasil convencionou-se chamar de Gnose. Isso acontece, provavelmente, porque Gnosis é a palavra grega para "conhecimento". O conhecimento gnosis é diferente do conhecimento arcanum, a "sabedoria secreta". Esses eram os conhecimentos discutidos nos Mistérios. Enquanto os gnósticos esperavam encontrar o conhecimento através de revelações divinas, as religiões "misteriosas" assumiam que já tinham certos conhecimentos, e eles eram passados dos membros de maior graduação aos de menor.
Platão, que era iniciado em um desses Mistérios, foi criticado severamente por ter revelado ao público, através de suas obras, diversos princípios filosóficos "secretos".
Muito bem. E o que é que eu tenho com isso?
Acho que essa divisão entre gnosis e arcanum é a origem entre a eterna disputa entre a Academia e as Religiões. Enquanto nas religiões os fiéis esperam atingir a sabedoria através de experiências espirituais e contato com o Divino, na Academia existem os mestres que passam seus conhecimentos aos iniciados. O vestibular e o trote funcionam como metáforas aos ritos de iniciação dos Mistérios, e lá dentro existe uma complexa rede de hierarquia.
Platão representa aqui um acadêmico exemplar: contrariando a mentalidade dos Mistérios originais, e também das guildas de ofícios, revelou ao público geral os conhecimentos secretos dos cultos misteriosos. Infelizmente, em pleno ano de 2008, ainda existem muitos acadêmicos que pretendem manter seus conhecimentos escondidos dentro da Academia, exibindo-os apenas aos iniciados - e, não raro, nem mesmo a eles! Platão, democraticamente, transcendeu esses limites, permitindo ao público em geral usufruir, pelo menos em parte, dos conhecimentos misteriosos, reforçando a idéia de que o conhecimento não precisa vir do Divino.
Tenho orgulho de fazer parte desse Mistério que é a Academia, e espero seguir o exemplo do grão-mestre Platão ao desnudar perante os olhos do homem comum os conhecimentos "misteriosos" que adquiro com meus Mestres.
Tudo isso foi só para dizer que eu estou muito feliz porque minha dissertação de mestrado já teve mais de 17.000 downloads no meu site...