29 de junho de 2008

Os Loucos Anos 90 - Parte 1

Sentado no chão do meu novo apartamento velho, onde pela primeira vez em 29 anos eu vou morar completamente sozinho, uma coisa me ocorreu: eu sou da Geração Anos 90.

É verdade. E eu nunca tinha admitido isso para mim mesmo. Eu nunca tinha deixado isso sair, assim, de maneira articulada. Era uma coisa de que eu desconfiava, intuia, mas não encarava. Medo de envelhecer? Não sei. Mas vamos aos fatos.

A geração dos meus pais se chama de "geração anos 60". Eles têm orgulho de terem visto o Brasil ser campeão em 58, 62 e 70. Eles viram o homem chegando na lua. Eles viram o Kennedy ser assassinado. Jovem Guarda, ditadura, Maio de 68, essas coisas.

Considerando que eles devem ter tido a gente entre os 25 e 35 anos de idade, nada mais natural do que imaginar que os filhos dos anos 60 viraram as crianças dos anos 90.

Eu, por exemplo. Em 1990 eu tinha 11 anos de idade. Tinha acabado de entrar em uma nova escola, saindo da escolinha do meu bairro e encarando o mundo real em um colégio de gente grande. Passei a maior parte dos anos 1990 nesse colégio, ouvindo música e vendo filmes, até 1996 quando saí de lá e fui para a faculdade. Em 1997 eu perdi a virgindade, e em 1998 entrei na Escola de Belas Artes da UFMG, onde estou até hoje.

Foi nesse período que eu comecei a me formar a-nível-de-pessoa-humana. Entre o moleque tímido de 11 anos que eu era em 1990 ao jovem esquisito que estudava animação em 2000, aprendi muita coisa e conheci muita coisa que me ajudaram a me tornar quem eu sou (ou melhor, estou sendo) hoje.



Para rever esse período tão importante da história da humanidade - basta dizer que foi durante os anos 90 que a internet se tornou uma realidade na vida das pessoas - recorri ao mesmo material de pesquisa a que recorremos quando queremos entender os anos 1960: as músicas. Montei um playlist de 5 horas de duração que estou ouvindo no shuffle/repeat há algum tempo. Relembrei alguns clássicos, descobri novas pérolas, e refiz amizade com muitas bandas que eu havia esquecido, assim como também fiz as pazes com bandas que eu não apreciava na época mas que hoje reconheço como dignas de nota.

Uma delas é o R.E.M. O pop cabeção universitário daquela turma nunca me disse muito, exceto talvez em "It's the end of the world as we know it". Ouvindo a banda hoje em dia, ainda tenho algumas críticas à banda (como por exemplo por eles imitarem incasavelmente os Byrds em seus primeiros discos) mas admiro muito mais o trabalho deles, especialmente as letras. Hoje em dia não sou mais um obcecado pelo barulho e pela velocidade, e consigo ouvir "What's the frequency Kenneth" e "Man on the Moon" com muito mais prazer. Aliás, depois de tanto tempo, e com o advento de coisas como a Wikipedia, hoje eu entendo as letras muito melhor, e dou bem mais valor a essas e outras músicas da banda.

Outra banda que eu desprezava no final dos anos 1990, quando minha veia heavy metal politizada me obrigava a ouvir apenas bandas que se parecessem com o Rage Against the Machine (banda que eu ainda escuto até hoje e ainda parece tão boa quando era na primeira vez em que eu escutei, em meados de 1995), era The Presidents of the United States of America. Quando eles estouraram na MTV com "Peaches" e "Lump" eu achava tudo idiota demais para o meu gosto. Eu era um chato de galochas que se preocupava muito com o futuro da humanidade e só pensava em política e coisas do tipo. Eu era jovem, cheio de sonhos, queria mudar o mundo... mas o tempo me deixou tão mais frustrado do que eu era naquela época que hoje em dia eu consigo rir. Eu era tão cheio de esperança no futuro que ficava o tempo todo preocupado em melhorar as coisas, em lutar pela liberdade e pelos meus ideais. Hoje em dia eu quero mais que vá tudo pro inferno, e é justamente por isso que eu consigo rir das coisas e achar graça no que antes eu considerava apenas ridículo.

Bons tempos aqueles. É claro que vocês se lembram do grunge, não é mesmo? Nirvana, Soundgarden, Alice in Chains, Mudhoney. Heavy metal, Jimi Hendrix e Sonics tudo misturado ao mesmo tempo. Tudo isso misturado a letras angustiadas que refletiam bem o espírito da época.

No colégio, já por volta de 1991, me lembro das turminhas ficarem muito bem delimitadas. De um lado, o pessoal que era feliz 24 horas por dia: as meninas que usavam moletom branco da Pakalolo com tênis Reebok, e os boyzinhos que estavam aprendendo a dirigir no Kadett. Do outro lado ficava a turma da roupa preta, que curtia um rock lento, sujo e pesado; era a turma que já começava a desconfiar, mesmo naquela tenra idade, que o futuro não ia ser assim tão Pakalolo quanto os professores nos diziam. Você tinha que escolher: ou você gostava de New Kids on the Block, ou você gostava de Sepultura. E essa escolha definia quem você iria ser no resto da sua vida.

No meu caso, essa escolha definiu mesmo. Até hoje eu não aprendi a dirigir, não uso moletom branco, e tenho certeza absoluta no fracasso da humanidade a curto, médio e longo prazo. E mesmo assim continuo curtindo a vida.

Em 1989 o Sepultura já dava a dica do que ia acontecer no meu futuro. A música era Inner Self, do álbum Beneath the Remains:

Walking these dirty streets with hate in my mind,
feeling the scorn of the world.
I won't follow your rules.

Blame and lies. Contradictions arise.

Non-conformity in my inner self.
I won't change my way.
It has to be this way.
I live my life for myself.

Forget your filthy ways.

Nobody will change my way.
Life betrays, but I keep going.
(...)
Personality is my weapon against your envy.



Em tempo: "pakalolo" é como eles chamam maconha no Havaí.

(continua...)

2 comentários:

Anônimo disse...

Ah recordações meu caro, muitas recordações deste periodo metal da minha vida, que parece nao ter acabado ainda. Um grande abraço

Anônimo disse...

Legal demais o texto, viajei no tempo. abç
Fidélis