Houve um tempo em que as pessoas sabiam o que queriam, e buscavam meios para consegui-lo. Era a época do rock, da psicodelia, das greves estudantis, das revoluções culturais, da pop art, das comunidades rurais, quando os jovens iam para a faculdade estudar filosofia e história para tentar mudar o mundo e transformá-lo em um lugar melhor.
Passaram-se 40 anos.
Muita coisa acontece em 40 anos. Basta lembrar que a II Guerra Mundial durou apenas 6. Nesses 40 anos, os hippies desapareceram, a mídia se tornou um monstro onipresente e todo-poderoso, o sistema político ocidental se transformou em um reality-show, a MTV transformou a rebeldia e a transgressão do rock em produtos limpos e seguros para a classe média de todo o mundo. O que antes era uma maneira de experimentar novas maneiras de viver, tornou-se um conjunto estrito de regras a serem seguidas: letras, roupas, cabelos, temáticas, tudo se transformou em um manual de estilo.
E o que vemos no rock de hoje não é nada mais que um arremedo, uma sombra, uma colcha de retalhos da idéia original. O que antes era experimentalismo, agora é obrigação. A diversão e a criatividade deram lugar à repetição de velhos clichés. Até mesmo os roqueiros que se dizem experimentalistas acabam cometendo os mesmos erros do passado, alienando o público com músicas chatas e conceitos sem graça.
A juventude transviada se transformou em um bando de ovelhinhas solitárias que fazem qualquer coisa por um minuto de alegria. Ouvindo Radiohead no iPod, gastando todo seu dinheiro em cerveja ruim e bares da moda, tentando desesperadamente agarrar alguém. Não é uma namorada que eles querem, mas sim um pedaço de isopor, qualquer coisa que os impeça de se afogar no oceano de nada que inundou a nossa sociedade.
Muito cômodo colocar a culpa na MTV, no FHC e em outras siglas. Vivemos a era do celular, da Wikipedia, do YouTube. O conhecimento está ao alcance de todos. Mas temos uma geração inteira mergulhada na angústia e no marasmo do pós-existencialismo - a depressão dos países frio europeus, que definiu a personalidade de pessoas como Sartre e Bergman, invadiu os trópicos, transformando os alegres caraíbas e guaranis em cópias esfarrapadas do Robert Smith. Esse existencialismo barato, típico dos fãs de Bukowski, reduz a aventura da vida sobre a Terra a um Dia da Marmota obscurecido pela música pop. Qual é a diferença entre o agroboy que se acaba no rodeio, e o estudante de design que se joga na pista da boite? Muito pouca. Estão ambos buscando a mesma coisa. E bebendo Sol.
Um jeito bem estranho de beber...
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Ao longo da minha vida eu já vi muitas pessoas esquisitas bebendo coisas
estranhas de maneiras bastante inusitadas.
Agora, isso aqui... Isso aqui eu nunca ...
3 comentários:
um insight profundo e deveras acertado... coinsidência do bizarro ou não, li o texto enquanto escutava "brain constipation" do nofx (http://www.plyrics.com/lyrics/nofx/brainconstipation.html), e creio que se encaixa bem no que você relatou.
só lhe digo que a partir do momento que você é capaz de enxergar isso na sociedade, já se diferencia dos demais...
agora, tomando sol? aí pede um gt fi... sol e nschin num dá não!
Disse Zappa que desde os tempos de Mozart todo mundo entra na música para conseguir mulher. Excluindo gente feito o Morrissey e o Renato Russo, eu concordo!
Pô, tudo bem, mas não só pra conseguir mulher, né Guilherme... isso já é consequência.
O lance é mais embaixo. É muita acomodação mesmo! Pobre juventude destes tristes trópicos...
Márciorocks.
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