27 de agosto de 2007

Mortes Rock and Roll

Em mais uma dessas conversas de bar que passam voando e têm intervalos cada vez maiores entre elas, debatia com Gabi Penélope quais seriam as mortes mais rock and roll da história do mesmo. Como o conceito de o que seria uma morte rock and roll começou a derivar muito e discordamos cada vez mais nele, decidimos fazer duas listas separadas. Aqui vai a minha.

Para mim o conceito de "morte rock and roll" é uma mistura de 1. o quanto eu gostaria de ter essa morte (sendo que quanto mais eu invejar a morte, mais rock and roll ela é) 2. quantos % do corpo do morto sobraram para o enterro e 3. a motivação da morte (i.e. suicídio é a coisa mais não-rock-and-roll do mundo).

Sendo assim, vejamos as 5 mortes mais rock and roll da história do rock:


5. Karen Carpenter (The Carpenters) - Anorexia

Karen Anne Carpenter e seu irmão Richard formavam a dupla perfeita da música pop: brancos, cristãos, afinados, fofinhos, eles eram tudo que a música pop queria nos anos 1970. No entanto, o que parecia um sonho de ternura escondia uma mulher de verdade, com anseios e problemas que a sociedade americana daquela época não estava disposta a expôr na mídia. Sua morte em 1975, provocada por um distúrbio alimentar, forçou um debate sobre o tema, justo em uma época em que as dietas milagrosas comandavam. O problema persiste até hoje, e o caso Carpenter entrou para a história do rock como um dos mais chocantes relatos de contraste entre a imagem do artista e sua vida real, além de ser um exemplo trágico do que o sucesso pode fazer com as pessoas.





4. Richie Valens, Big Bopper & Buddy Holly
- Acidente de avião

O episódio que ficou imortalizado na canção de Don McLean como "o dia em que a música morreu" foi um dos maiores traumas da história do rock e pode ser considerado um marco divisório entre a fase inicial do rock romântico e inocente dos anos 1950 com o rock sarcástico e realista da primeira metade dos anos 1960.

No dia 3 de Fevereiro de 1959, em Clear Lake, Iowa, um pequeno avião caiu em meio a uma forte tempestade. Dentro viajavam, além do piloto Roger Peterson, os rockeiros Charles Hardin Holley, Richard Steven Valenzuela e Jiles Perry Richardson Jr., três ídolos da juventude naquela época e que tiveram suas carreiras todas interrompidas ao mesmo tempo, graças ao péssimo planejamento da turnê "The Winter Dance Party", que marcou shows em 24 cidades sem se preocupar com a ordem em que eles iriam acontecer. Por causa disso, os artistas tinham que viajar longas distâncias em um ônibus com aquecimento quebrado. Logo no início da turnê, o baterista Carl Bunch teve os pés congelados e foi hospitalizado.

Com o saco cheio de passar frio no ônibus, Buddy Holly e banda decidiram contratar um avião para viajar até a próxima cidade da turnê. Antes da viagem, ambos os integrantes da banda se safaram da morte trocando seus lugares por dois outros headliners da turnê: Waylon Jennings cedeu seu lugar a um gripado Big Bopper, enquanto Ritchie Valens, que nunca tinha viajado de avião, conseguiu ficar com o lugar de Tommy Allsup no avião, em um prosaico cara-ou-coroa. O outro cantor principal da turnê, Dion DiMucci, da banda Dion & the Belmonts, também foi convidado por Buddy Holly a viajar no avião, mas ficou com vergonha de pagar $36 dólares pela viagem. Sua humildade, a gentileza de Jennings e o azar de Allsup acabaram matando, sem querer, os três ídolos juvenis e marcando para sempre a trajetória do rock and roll.





3. Marvin Gaye
- Assassinado pelo próprio pai

Durante os anos 60, Marvin Gaye foi o maior cantor da gravadora Motown, emplacando sucessos como "I heard it through the grapevine" e "Ain´t no mountain high enough". No entanto, sempre antenado com seu tempo, no final dos anos 60 Gaye ficou entediado com o sistema Motown de fazer música - regras estritas que criavam hits garantidos no rádio. Em 1971, contrariando crítica, público, amigos e patrões, lançou um disco genial chamado "What´s Going On", um marco na música pop que definiu de uma vez por todas a vocação da soul music e do funk ao comentário social e a temas mais maduros, ao invés do mesmo baby-eu-te-amo de sempre. Gaye teve uma vida conturbada, cheia de altos (vários hits, milhões de discos vendidos) e baixos (a morte de sua parceira Tammi Terrell em 1970, o divórcio em 1978, a falência total em 1979). Em 1983, fez sua última turnê pelos EUA, e então refugiou-se na casa dos pais, lutando contra a depressão e as drogas. Apesar de tudo isso, e das várias tentativas de suicídio, Gaye morreu em 1984, assassinado a tiros, dentro de casa, pelo próprio pai, durante uma briga sobre os negócios da família.




2. Mark Sandman (Morphine)
- Ataque cardíaco em pleno palco

Na verdade essa lista nasceu porque eu estava pensando em como deve ser paia morrer velho, com esclerose múltipla, em coma... e que deve ser muito mais doido fazendo alguma coisa que você gosta muito. Então eu me lembrei do Mark Sandman. Morrer de ataque cardíado é uma coisa. Morrer de ataque cardíaco no meio de um show, é outra. Ele tinha 47 anos de idade, e provavelmente fumava, cheirava, bebia e tudo mais. Foi uma morte digna, de guerreiro: tombar no campo de batalha durante o combate. Poucas pessoas podem se dar ao luxo de morrer como viveram.


1. John Entwistle (The Who) - Overdose aos 57

Só tem uma coisa mais rock and roll do que morrer de ataque cardíaco no meio de um show aos 47 anos - morrer de overdose aos 57 anos com duas putas em um hotel de Las Vegas. Durante toda sua carreira, Entwhistle era "aquele baixista quietinho do Who que nunca fala nada e fica o show inteiro paradão". Obviamente, apenas fãs idiotas pensavam isso. Entwhistle era um porra louca como outro qualquer, fazia shows fantasiado de caveira e ainda mandava aquela voz de capetão em "Summertime Blues" e "Boris the Spider". Além disso, tinha mais de 200 baixos, e tocava com uma distorção que muitas bandas de metal teriam medo de usar. Sua morte é um exemplo para todos nós, que esperamos morrer antes de ficarmos velhos. Ele, com certeza, conseguiu!

Nota do editor: essa lista é obviamente uma grande baboseira, como toda lista sempre é... se você discorda ou tem sugestões de mortes mais rock and roll, deixe um comentário!!

3 comentários:

Guik disse...

Aguardo ansiosamente a morte do Elton John, para podermos comentar.

marcelão¹³ disse...

gk,

isso pq o fre mercury já se foi, né?

poeira,

se me permite o comentário, no que se refere a morte tripla citada 4o lugar, creio que a música, apesar de registrar a morte dos três músicos, sintetizava como "the day the music died" a perda de buddy holly. o autor especifica "his widowed bride", e holly deixou uma noiva gravida.

alguns críticos dizem que junto com ele se foram experimentos musicais que só reapareceram com os beatles anos depois, o que renovou o rock como um todo, desligando-o de sua fórmula original r&b + gospel + country. só te digo que me emociona ver o cara dedilhando a guitarra...

alguns analistas chegam ao exagero dizendo que o mundo seria outro se o avião não houvesse caído, uma vez que toda a insanidade rockenrolistica teria nascido antes, e os ingleses nunca teriam dominado a cena do rock... mas como "se" num é porra nenhuma na história real, ainda bem que é do jeito que é.

ps.: a maior perda do rock pra mim foi o bon scott... não pelo estilo, drogas, álcool, suícidio, ou sei lá mais o que criaram via teoria da conspiração, mas sim por que com sua falta, foi substituído pelo brian jones, que puta merda, num chega neeeeeeeeeem perto!

Anônimo disse...

Apenas uma correção. karen Anne Carpenter faleceu em 4 de fevereiro de 1983 e não em 1975 como está descrito.

Antenor Ferreira Junior
antenor.ferreirajunior@eds.com