Quando eu era criança, nós morávamos em um prediozinho de 6 apartamentos em um bairro remoto que tinha mais terrenos baldios do que casas. Sempre que chovia, as ruas inundavam, e haviam enxurradas de lama e pedra. Todo mês havia uma reunião de condomínio na casa de alguém. Era um evento social do prédio. As pessoas ficavam felizes quando tinha reunião de condomínio - compravam bebidas e comida, se vestiam bem, era uma festinha do prédio onde se discutia sobre política, futebol, cultura, e até mesmo os problemas do prédio.
Nos cinco anos em que morei com minha ex-mulher, eu nunca fui em uma reunião de condomínio. Vivíamos em um prédio de 48 apartamentos e nesses cinco anos eu nunca conheci nem fiquei amigo de ninguém do prédio. As áreas de convívio projetadas pelo arquiteto viviam às moscas. O salão de festas era terra de ninguém. A churrasqueira nunca foi usada. Continua branca como no dia em que foi instalada.
Eu olho à minha volta e vejo tantos relacioamentos acabando por causa de dinheiro. Casamentos, namoros, amizades, sociedades, tudo se dilui na ganância e na cobiça. Todos dizem que não é nada disso: apenas querem uma vida melhor, merecem mais, precisam ter TV a cabo com todos os canais, não podem deixar de viver sem celular e 30 cartões de crédito, carro do ano, chuveiro quente nos 3 banheiros...
Obviamente está parecendo que eu estou azendo uma apologia da pobreza, mas não é nada disso. Quando Chaplin fazia o personagem do vagabundo, ele não estava falando das pessoas pobres que não têm dinheiro nem luxo nem conforto. Ele estava falando das pessoas sensíveis, que se preocupam mais com o bem estar de uma criança e de um cachorro do que com o status quo e as aparências.
Nossa sociedade (a ocidental cristã capitalista) se preocupa demais com valores fugazes e abstratos como a beleza e o status. Falha miseravelmente em perceber que são valores ilusórios. Nossos adultos agem como crianças que querem sempre um brinquedo novo: trocam de carro todo ano, de celular a cada dois anos, de marido ou esposa a cada quatro. O amor não é suficiente, pois nada preenche o vazio que sentimos. Queremos sempre mais coisas e objetos para mascarar nossa total e completa falta de preparo para a vida.
Temos medo da morte, do escuro, da solidão - nunca terminamos um relacionamento sem começar outro antes - da fome, do imponderável, temos um medo desgraçado de sermos ridicularizados, de pensarem que somos pobres, temos medo da opinião dos outros, temos medo do que nossos pais vão pensar, medo de sermos xingados, de nos chamarem de gordos ou de feios ou de esquisitos. Destruímos tudo que havia de belo em nossa cultura e em nossas tradições porque temos medo, medo de tudo.
Não foi o amor que acabou. Foi a coragem.
Um jeito bem estranho de beber...
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Ao longo da minha vida eu já vi muitas pessoas esquisitas bebendo coisas
estranhas de maneiras bastante inusitadas.
Agora, isso aqui... Isso aqui eu nunca ...
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