29 de agosto de 2008

Farinha do Desprezo

Não tou a fim de explicar nada não. Vou postar essa letra aqui porque eu tou a fim.

Sempre gostei dessa música.


Farinha do Desprezo
Jards Macalé & Capinam

Já comi muito da farinha do desprezo
Não diga mais, não me diga mais que é cedo
Há quanto tempo, amor, quanto tempo estava pronta
Que estava pronta a farinha do desprezo

Me jogue fora que na água do balde eu vou-me embora.

Só vou comer agora da farinha do desejo.
Alimentar minha fome pra que eu nunca me esqueça,
Ah, como é forte o gosto da farinha do desprezo,
Só vou comer agora da farinha do desejo.

27 de agosto de 2008

A dor e a delícia de ser belorizontino

Sempre que converso com amigos de fora de BH, percebo o quanto eles acham o meu sotaque e meu vocabulário engraçados. Tudo bem. Mas o que me morde mesmo é quando alguém fala que eu tenho sotaque de mineiro.

O sotaque de Belo Horizonte é muito diferente do sotaque mineiro tradicional. Belo Horizonte é uma megalópole urbanizada, e tem sua cultura e história próprias, muito diferentes da imagem de Minas Gerais que o resto do Brasil tem. Nós não somos um bando de jecas que comem queijo e usam chapéu de palha.

A cultura belorizontina é muito específica, e aqueles que vivem nela têm muito orgulho de suas características, que o resto do Brasil não conhece porque nunca fizeram uma novela da Globo passada aqui. Eles também acham que todo nordestino fala "ô xente", e coisas do tipo.


Sendo assim, decidi me apropriar de um texto clássico que circula há décadas (desde antes de inventarem o spam). Dei umas modificadas por minha própria conta e risco, mas aqui vai. Uma declaração de amor ao jeito belorizontino - e não mineirinho - de ser!



Belorizonte

A gente vai no clube.
A gente passa férias em Guarapari.
A gente não tem mar, por isso vive no bar.
A gente tem algum churrasco pra ir todo fim-de-semana.
A gente solta papagaio e anda de velotrol na Praça do Papa.
A gente anda de burrim no Parque Municipal. E depois vai no pedalim.
A gente assiste TV Alterosa, Rede Minas e MGTV.
A gente vai na Serra do Rola-Moça e no Pico do Ibituruna.
A gente come manteiga da terra do Patafufo.
A gente toma banho de mangueira quando tá calor.
A gente aprende a andar de bicicleta no estacionamento do Mineirão.
A gente come pão de queijo todo dia.
A gente almoça na casa da vó.
A gente vai na Feira Hippie e acha normal não ter nenhum hippie lá.
A gente vai na Floresta sabendo que lá nem tem tanta árvore assim.
A gente conhece todas tribo de índio do Brasil: Tupis, Tamóios, Guajajaras, Guaicurus...
A gente viu Hilda Furacão só pra ficar procurando lugares que a gente já foi.
A gente anda de ônibus colorido. Azul, amarelo, vermelho...
A gente tem medo do Capeta do Vilarinho, da Loura do Bonfim e da G.D.A.
A gente adorava a "limonzine" do Tony Rey. (sim, era uma limousine feita com um Monza)
A gente sabe que cruzeirense vai pela Catalão e atleticano pela Antônio Carlos.
A gente sabe que Bolão não é um cara gordo e que "tomar no Redondo" não tem nada de mais.
A gente vai na Praça da Liberdade todo natal pra ver as luz.
A gente sabe que quando alguém fala "vamo no shopping", é no BH Shopping.
A gente come pipoca no mirante do Comiteco, digo, Mangabeiras.
A gente conhece um tanto de cachoeira.
A gente já foi na Gruta da Lapinha, na Gruta de Maquiné, e na fábrica da FIAT.
A gente vai na Raja porque ninguém sabe escrever nem falar Gabaglia direito.
A gente come fígado com cebola, de pé, no Mercado Central, domingo de manhã.
A gente sabe que o Seis Pistas tem no máximo umas quatro.
A gente tem banda de rock.
A gente sabe que Santa Tereza é o bairro do Sepultura, e não do Clube da Esquina.
A gente acha normal subir e descer ladeira.
A gente participa de campeonato de peteca e de truco.
A gente tem a manha de chapá os melão e rachá os bico sem dá pala.
A gente chama todo mundo de véi.
A gente acha as coisa ou doida ou paia.
A gente fraga os movi da galera.

A gente não é minêro.
A gente é de Belorizonte!

"Nosso primeiro beijo foi no McDonald's"

Li essa frase em uma Playboy brasileira e fui tomado de assalto. Que poder de síntese! Tudo que está errado no mundo, resumido em um singelo conjunto de 6 palavrinhas.

Nosso... primeiro... beijo... foi... no... McDonald's...

Não foi em um lugar fechado, não foi em um lugar escuro, e nem aconchegante. Não foi escondido atrás da pilastra, não foi dentro do carro debaixo da chuva, não foi no cinema, e muito menos na cama ou no sofá. Não foi na casa de amigos, na boite, na praia, nada. Foi no McDonald's. Onde tudo é branco e iluminado e barulhento. Foi no meio de um mundaréu de gente comendo comida da pior qualidade. Nosso primeiro beijo foi com cheiro de gordura podre.

Bem... e o que eu podia esperar? A Playboy brasileira já deixou, há muito tempo, de ser um oásis de bom gosto. Compare uma edição do início dos anos 1990 com uma de hoje em dia e você vai ver uma clara diferença. O leitor médio de Playboy, outrora um bebedor de boas bebidas e comedor de boas mulheres, é hoje um cidadão comum, fã de futebol e de mulatas com a bunda desproporcional. Não aprecia as fotos por sua beleza estética, e pelo casamento harmonioso entre a habilidade e o bom gosto do fotógrafo e as formas inebriantes das convidadas. Não, nada disso. O que importa é se a mulher é famosa. No mundo da fama de 15 minutos, queremos ver peladas as meninas do BBB, as meninas da CPI, as meninas do Créu, a ninja do funk, e qualquer outra coisa desse nível. Antes, quem decidia que mulher era desejável ou não, era o Hugh. Agora, é o Huck.

É o poder infinito que a sociedade de consumo tem de estragar tudo, até mesmo o que ela própria criou. Caiu o mito da revista para homens refinados, a revista que separava os homens dos moleques. A revista que você lia quando virava homem, e que dizia o que havia de mais chic e elegante no momento. A revista das entrevistas gostosas e das mulheres inteligentes. Acabou. O que restou foi uma mistura de Revista Placar com ficar olhando pra janela da sua vizinha na esperança de ver ela pelada de costas e torcer para ela ser mais ou menos bonitinha.

Mas a realidade é dura. Temos que encarar. Vivemos em um mundo de primeiros beijos no McDonald´s.

Para mim, é fácil e cômodo pensar "cada um sabe o que merece". Mas não consigo deixar de ficar com pena dessas pessoas. O que foi que nós fizemos para merecer isso? Que culpa temos nós, que precisamos expiá-la nos privando de tudo o que havia de mais humano, saudável, belo e poético nesse mundo? Eu pensava que no futuro, onde vivemos hoje, as pessoas teriam que se privar de água potável e carros movidos a gasolina. Mas agora vejo que isso é o menor dos nossos problemas.

Viver sem água potável e sem gasolina é perfeitamente possível. Mas viver sem romance? Que graça há nisso? O homem médio do século XXI não vive: sobrevive, em meio a um deserto de significado, onde nada vale nada, nem mesmo o dinheiro. Tudo o que ele pode querer é malhar o bíceps, comprar roupas ridículas, beber sem sentir o gosto, e dirigir uma caminhonete bem poluente em plena cidade grande. Seus sonhos de consumo são uma casa, um carro, e uma TV de plasma.

Ah, e comer a enfermeira do funk.

21 de agosto de 2008

Sumiço

Os amigos leitores devem ter percebido que eu dei uma sumida. Infelizmente tenho pouco tempo para postar, e também estou com uma certa crise de personalidade nesse blog.

Inicialmente a idéia dele era comentar minhas aventuras atrás de bebida (whiskey) e (and) mulheres (wimmin).

Para isso, eu criei dois blog separados.

O Drink Drinker é um blog sobre bebidas, cocktails, receitas, dicas, história das bebidas, resenhas de degustação, etc.

O Fudeu! Vou ser pai! E agora? é um blog sobre ser pai (e mãe)no ano 2008, onde estou anotando todas as minhas impressões e descobertas sobre esse tema tão complexo e infinito. Como já tenho mulher grávida e tudo mais, os dias de galinhagem acabaram, e com eles as aventuras, dramas e comédias que os acompanhavam.

Isso tudo além dos outros incríveis blogs da Poeirosfera, que vocês podem acompanhar via RSS!

Mas de vez em quando eu tou um pulinho aqui. Nunca se sabe.

9 de agosto de 2008

O Peido

Nesses tempos de olimpíada, achei por bem trazer a vocês mais um pouco do budismo zen.

É a história do peido.

Era uma vez um monge estudioso do zen, muito esperto e disciplinado, chamado Su Dongpo (1036-1101). Ele vivia perto de um rio, e seu amigo, o mestre zen Foyin, morava na margem oposta. Os dois conversavam muito sobre o zen.

Um dia, Dongpo sentiu-se inspirado, e escreveu um poema:

Curvo minha cabeça ao Céu dentro do Céu
Raios de luz iluminando o universo
Os Oito Ventos não podem me mover
Sentado sobre o lótus púrpura dourado

Os "oito ventos" são forças inter-pessoais do mundo material que dirigem e influenciam os corações dos homens: elogio, escárnio, honra, desgraça, ganho, perda, prazer e sofrimento. Ao dizer que não era movido por esses ventos, Su Dongpo queria dizer que havia atingido um nível elevado de espiritualidade, onde essas forças não o afetavam mais.

Satisfeito com o resultado de seu poema, Su Dongpo enviou um mensageiro até a casa do mestre Foyin. Seu amigo iria ficar impressionado com a beleza de seu poema.

Algum tempo depois, o mensageiro retornou, trazendo nas mãos o poema que havia levado. Ele entregou o papel a Su Dongpo e disse que Foyin havia lido o poema e depois havia escrito alguma coisa no papel.

Dongpo, curioso, abriu o papel e leu o comentário do venerável mestre zen:

"Peido."

Su Dongpo ficou chocado e furioso. Ao invés de um elogio, um selo de aprovação, seu velho mestre havia escrito apenas a palavra "peido". Sentiu-se ofendido com o comentário. "Como ele ousa me insultar dessa maneira? Isso não vai ficar assim!"

Indignado, Dongpo saiu correndo de casa e pegou uma balsa para atravessar o rio o mais rápido possível. Ele queria encontrar Foyin e exigir desculpas.

Quando chegou na casa do mestre, encontrou a porta fechada, e um bilhete pregado na porta:

Os Oito Ventos não podem me mover
Um peido me faz atravessar o rio

Su Dongpo sentiu-se decepcionado consigo mesmo. Se ele era realmente um homem de espírito elevado, como poderia ficar tão nervoso por um motivo tão estúpido?

Envergonhado e um pouco mais sábio, Su Dongpo voltou silenciosamente para sua casa.

5 de agosto de 2008

Todo pirata é espada?

Antes de mais nada, entre nesse site aqui e faça o teste. Depois você lê o resto do post.

Pronto?

Então vamos lá.

Eu fiz o teste, e achei muito interessante a lista de domínios que apareceu no meu browser, especialmente as notas que cada um recebeu no quesito sexualidade. Pelo que eu entendi, na proporção do quanto um site é macho ou fêmea, 1.0 significaria um site neutro e unisex; quanto mais esse número se aproximasse de 0, mais feminino ele seria, e quanto mais ele se aproximasse de 2, mais masculino. Um site com 0 seria totalmente feminino e um site 2 seria o máximo da masculindade.

Sendo assim, fazemos algumas constatações:

  • O site mais feminino da lista é o diynetwork, com 0,69. Isso significa que as mulheres pegam mais pesado do que os homens na hora de reformar a casa. Ou então que elas entram no site, baixam os projetos, e obrigam os maridos a executar a parte que envolve mexer com produtos químicos e ferramentas que estragam a pele e as unhas.
  • Tem mais mulher do que homem baixando fonts no dafont.com, indicando talvez uma supremacia feminina no mercado de design gráfico. Eu mesmo tenho 4 fonts nesse site e até hoje só recebi por causa delas e-mails de mulheres.
  • bored.com vem em terceiro com 0,79 indicando que ser mulher no século xxi é mesmo muito entediante. Recomendo que as mulheres modernas abandonem de vez o Sex and the City e os discos da Madonna e aprendam com nós, homens, o que é se divertir. Ver futebol, por exemplo.
  • O youtube foi o único site com exatamente 1 ponto, indicando ser o site mais balanceado e universal do momento. Tanto homens quanto mulheres gostam de ver vídeos de pessoas bêbadas dando vexame na tv ou em raves.
  • Se as mulheres baixam mais fonts, os homens publicam mais fotos: o site flickr.com tem nota 1,15
  • Os homens gostam mais de cinema e música do que as mulheres: o imdb é 1.06, o allmusic é 1,35 e o winamp.com é nota 1,5
  • O site apple.com não aparece na lista, porque ela só mede a feminilidade ou masculinidade dos sites, e não leva em consideração sites gays, lésbicos ou transexuais.
  • Considerando que a nota máxima da feminilidade seria 0 e o site mais feminino da lista tem nota 0,69, podemos afirmar que um site que tivesse nota acima de 1,7 seria de extrema masculinidade. O que dizer então do thepiratebay.org que tem nota 2,13???
É O SITE MAIS MACHO DA INTERNET!! ARRRRRRRRRRRRR!!!!!

Sem mais no momento, subscrevo-me.

Daniel Leal Werneck
Dept. de Pseudo-Estatística da Universidade Patafísica da Jamaica do Sul
Bolsista da Fundação Bob Marley

3 de agosto de 2008

Ateístas: ganhando desde 33 a.D.

"Deus quer impedir o mal, mas não consegue?

Então ele não é onipotente.
Ele pode, mas não quer?
Então ele é mau.
Ele pode, e quer?
Então por que existe o mal?
Ele não pode e nem quer?
Então por que chamá-lo de Deus?"

- Epicuro