27 de agosto de 2008

A dor e a delícia de ser belorizontino

Sempre que converso com amigos de fora de BH, percebo o quanto eles acham o meu sotaque e meu vocabulário engraçados. Tudo bem. Mas o que me morde mesmo é quando alguém fala que eu tenho sotaque de mineiro.

O sotaque de Belo Horizonte é muito diferente do sotaque mineiro tradicional. Belo Horizonte é uma megalópole urbanizada, e tem sua cultura e história próprias, muito diferentes da imagem de Minas Gerais que o resto do Brasil tem. Nós não somos um bando de jecas que comem queijo e usam chapéu de palha.

A cultura belorizontina é muito específica, e aqueles que vivem nela têm muito orgulho de suas características, que o resto do Brasil não conhece porque nunca fizeram uma novela da Globo passada aqui. Eles também acham que todo nordestino fala "ô xente", e coisas do tipo.


Sendo assim, decidi me apropriar de um texto clássico que circula há décadas (desde antes de inventarem o spam). Dei umas modificadas por minha própria conta e risco, mas aqui vai. Uma declaração de amor ao jeito belorizontino - e não mineirinho - de ser!



Belorizonte

A gente vai no clube.
A gente passa férias em Guarapari.
A gente não tem mar, por isso vive no bar.
A gente tem algum churrasco pra ir todo fim-de-semana.
A gente solta papagaio e anda de velotrol na Praça do Papa.
A gente anda de burrim no Parque Municipal. E depois vai no pedalim.
A gente assiste TV Alterosa, Rede Minas e MGTV.
A gente vai na Serra do Rola-Moça e no Pico do Ibituruna.
A gente come manteiga da terra do Patafufo.
A gente toma banho de mangueira quando tá calor.
A gente aprende a andar de bicicleta no estacionamento do Mineirão.
A gente come pão de queijo todo dia.
A gente almoça na casa da vó.
A gente vai na Feira Hippie e acha normal não ter nenhum hippie lá.
A gente vai na Floresta sabendo que lá nem tem tanta árvore assim.
A gente conhece todas tribo de índio do Brasil: Tupis, Tamóios, Guajajaras, Guaicurus...
A gente viu Hilda Furacão só pra ficar procurando lugares que a gente já foi.
A gente anda de ônibus colorido. Azul, amarelo, vermelho...
A gente tem medo do Capeta do Vilarinho, da Loura do Bonfim e da G.D.A.
A gente adorava a "limonzine" do Tony Rey. (sim, era uma limousine feita com um Monza)
A gente sabe que cruzeirense vai pela Catalão e atleticano pela Antônio Carlos.
A gente sabe que Bolão não é um cara gordo e que "tomar no Redondo" não tem nada de mais.
A gente vai na Praça da Liberdade todo natal pra ver as luz.
A gente sabe que quando alguém fala "vamo no shopping", é no BH Shopping.
A gente come pipoca no mirante do Comiteco, digo, Mangabeiras.
A gente conhece um tanto de cachoeira.
A gente já foi na Gruta da Lapinha, na Gruta de Maquiné, e na fábrica da FIAT.
A gente vai na Raja porque ninguém sabe escrever nem falar Gabaglia direito.
A gente come fígado com cebola, de pé, no Mercado Central, domingo de manhã.
A gente sabe que o Seis Pistas tem no máximo umas quatro.
A gente tem banda de rock.
A gente sabe que Santa Tereza é o bairro do Sepultura, e não do Clube da Esquina.
A gente acha normal subir e descer ladeira.
A gente participa de campeonato de peteca e de truco.
A gente tem a manha de chapá os melão e rachá os bico sem dá pala.
A gente chama todo mundo de véi.
A gente acha as coisa ou doida ou paia.
A gente fraga os movi da galera.

A gente não é minêro.
A gente é de Belorizonte!

3 comentários:

Luiz Felipe disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luiz Felipe disse...

Partindo do raciocinio de que nós de BH somos filhos ou netos de pessoas que vieram do interior do estado, a "cultura caipira" esta enraizada em nosso sotaque e modo de ser.
Acho que a questao é um pouco diferente, a falta de informacao e ignorancia desse post sao tao grandes quanto os que nos enquadram no esteriotipo. Vivemos em uma grande area urbana, o que deve gera diferentes estilos de ser, a diversidade de ser mineiro. BH é muito mais que todos os esterioptipos citados nos textos.
Achei um pouco preconceituosas as citacoes.
Abracao e parabens pelo blog.

Anônimo disse...

A gente fala zuando e os mané acha que é sério.
A gente tem as manha da ironia, do sarcasmo e do bom humor.
A gente pode ter vindo do sul, norte, leste ou oeste, misturamos tudo aqui, do jeito de BH.
Abç,

Fidel