5 de dezembro de 2007

Poema em linha torta

(apud Fernando "Haroldinho" Pessoa)

Nunca encontro ninguém que tenha feito uma cagada.
Todo mundo que eu conheço é sempre o fodão em tudo.

E eu, que sendo alto, sou baixo, e tantas vezes nojento, tantas vezes escroto,
irresponsavelmente relapso, indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho publicamente enfiado os pés nas jacas da sociedade,
Que tenho sido um babaca, mesquinho, infantil e ridículo,
Que tenho sofrido calado
e quando não estou calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às pessoas mais deprimentes,
Eu, que tenho sido assediado pelos homens e mulheres do limbo,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, bebendo dinheiro até não sobrar nada,
Eu, que, pressentindo a briga, me escondo atrás do bar com o copo na mão
como num filme do Oscarito;
Eu, que tenho ignorado as pequenas coisas da vida,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca desmaiou sobre o próprio vômito.
Nunca foi expulso, nunca foi demitido, chutado, chifrado, roubado, enganado.
Nunca cagou sangue, nunca desmaiou, ou caiu, se cortou, se rasgou, se fudeu.
Nunca foi senão príncipe - e nunca gauches - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma covardia!
Não! São todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que já foi escroto?

Estou farto de fotologgers!
Posando e sorrindo para a posteridade virtual.
Fazendo o V com os dedinhos que aprenderam com a Giselle.

Onde é que há gente normal nesse mundo?
Quer dizer então que só eu sou errado sobre a Terra?

Orgulho não é veneno, e é gostoso de engolir.
O importante é que emoções eu bebi.

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