Hoje o Phillip K Dick completaria 80 anos de idade.
O que dizer sobre ele? Não sei.
Só sei que eu não gosto de "Blade Runner". Acho que isso explica muito sobre minha relação com a obra dele.
18 de dezembro de 2008
Feliz Aniversário PKD
15 de dezembro de 2008
11 de dezembro de 2008
Tópicos Superficiais
"Estranho espetáculo da vida humana, onde há um esforço instintivo de todas as pessoas para esconder essas tristes realidades sob uma pilha de assuntos superficiais que constituem os fundamentos do contato entre as pessoas!"
9 de dezembro de 2008
O Medo
A COMPADECIDA
É verdade que não eram dos melhores, mas você precisa levar em conta a língua do mundo e o modo de acusar do diabo. O bispo trabalhava e por isso era chamado de político e de mero administrador. Já com esses dois a acusação é pelo outro lado. É verdade que eles praticaram atos vergonhosos, mas é preciso levar em conta a pobre e triste condição do homem. A carne implica todas essas coisas turvas e mesquinhas. Quase tudo o que eles faziam era por medo. Eu conheço isso, porque convivi com os homens: começam com medo, coitados, e terminam por fazer o que não presta, quase sem querer. É medo.
ENCOURADO
Medo? Medo de quê?
BISPO
Ah, senhor, de muitas coisas. Medo da morte...
PADRE
Medo do sofrimento...
SACRISTÃO
Medo da fome...
PADEIRO
Medo da solidão. Perdoei minha mulher na hora da morte, porque a amava e porque sempre tive um medo terrível da solidão.
6 de dezembro de 2008
Equação para a vida adulta
Imagine que o número de pessoas que você já comeu, beijou e pegou em geral seja X e que o número de amigos verdadeiros que você tem no mundo seja Y.
Quando a gente é adolescente, Y é infinitamente maior do que X. Até que rola a primeira pegação, e então vamos contar aos nossos inúmeros, incontáveis amigos, todos os detalhes mentirosos do evento.
Paulatinamente, ao longo dos anos, X tende a aumentar, à medida em que conhecemos novas pessoas, entramos e saímos de relacionamentos, e nos permitimos amar e sermos amados. Enquanto isso, Y, afetado pelos mais diversos fatores, começa a cair.
Em certo ponto, os números se equivalem. Você já pegou tanta gente e seu círculo de amizades encolheu tanto que o placar fica empatado.
A partir desse momento, você pode se considerar um adulto.
Suas lembranças de relacionamentos anteriores vão ficando cada vez mais vagas e distantes. Aquele beijo perfeito, aquela transa inesquecível, aquela pessoa querida que desapareceu e você nem sabe direito por que. Chega o casamento, vêm os filhos, e você se vê, subitamente, nesse outro lugar, onde as aventuras amorosas são apenas estranhas recordações.
Enquanto isso, seus amigos vão diminuindo em quantidade. Eles vão morar fora, morrem, ou apenas desaparecem na vida. O tempo fica curto, mal sobra uns minutos para ficar com a família, e os programas dos amigos vão ficando em segundo plano. A gente se contenta com aquela cervejinha com o pessoal do escritório no happy hour de sexta-feira e depois só quer saber de dormir e brincar com a garotada.
É claro que essa regra não é uma lei universal, e várias pessoas que se consideram a exceção dela irão se pronunciar. Mas é só uma coisinha que eu pensei hoje.
27 de novembro de 2008
Frank Sinatra & o Rock
"O rock and roll é a mais brutal, feia, desesperada e maléfica forma de expressão que eu já tive o desprazer de ouvir. Ele é escrito e cantado por estúpidos cretinos, com reiterações imbecis e letras hipócritas, obscenas, realmente sujas (...) (o rock and roll) consegue ser o hino militar de todos os delinqüentes de costeletas sobre a face da Terra."Frank Sinatra, em uma audição no Congresso dos EUA, 1958
20 de novembro de 2008
30 anos de Jim Jones
Hoje é o aniversário de 30 anos do "massacre" de Jonestown, quando 909 pessoas se mataram no templo da Igreja do Povo em Jonestown, na Guiana. O pastor Jim Jones e seus seguidores, sob forte pressão política e da imprensa, decidiram deixar esse mundo acreditando que teriam uma vida melhor em outro.
É isso que acontece quando as pessoas acreditam em alma e vida após a morte.
Maiores informações na Wikipedia.
17 de novembro de 2008
Viver e Morrer Sozinho
Muita gente pensa que uma vida sem religião, espiritualidade ou coisas do tipo leva ao sofrimento, ao suicídio e outras coisas. Constantemente me pego com pensamentos sobre a morte, a solidão e outros temas inerentes à existência humana - e no entanto, raramente fico deprimido por causa de algum deles.
É o caso do famoso "todo mundo morre sozinho". Pensar que somos todos sozinhos no mundo, e que laços familiares e afetivos são apenas temporários é mais libertador do que deprimente. Precisamos estar sempre conscientes do nosso "eu mesmo", e garantir que ele exista independentemente de qualquer outro.
As pessoas vêm e vão o tempo todo. Nascem, morrem, mudam de cidade, encontram Jesus, batem a cabeça e ficam com amnésia, ou então ficam apenas esnobes mesmo e começam a te ignorar. Acontece todos os dias, e é essencial sabermos lidar com isso. Para começar, não levar nada para o lado pessoal, lembrando que também para os outros somos nós quem vamos embora, morremos, etc.
Também é importante deixar que as pessoas vivam suas próprias vidas, e que nos deixem viver as nossas. Se sua vida é tão desinteressante que você prefere se intrometer na vida dos outros, você a está desperdiçando. Hora de repensar seus objetivos. Vale aqui o bom e velho "viva e deixe viver". Ênfase no "viva".
Além disso, viver e morrer sozinho não nos impede de ter amigos - também eles são todos sozinhos nessa vida, assim como nós. Curtir a solidão da existência em grupo é muito mais agradável, e ajuda cada um a compreender melhor sua própria solidão e a conviver com ela de maneira saudável.
Você pode se casar, ter filhos, família, igreja... Não adianta. À noite, no escuro, é só você, ali, enrolado no colchão. Você e as vozes na sua cabeça.
Melhor aprender a conversar com elas amistosamente.
13 de novembro de 2008
Psicologia infantil cristã
Eu, que sou ateu e racional, em minha infinita bondade, decidi dar mais uma chance ao cristianismo, e peguei a Bíblia para tentar ler.
Sem saber por onde começar, resolvi ler o livro que tivesse o nome mais engraçado, e abri então num tal de Deuteronômio. E nele estava escrito assim:
Quando alguém tiver um filho contumaz e rebelde, que não obedecer à voz de seu pai e à voz de sua mãe, e, castigando-o eles, lhes não der ouvidos, então seu pai e sua mãe pegarão nele, e o levarão aos anciãos da sua cidade, e à porta do seu lugar; e dirão aos anciãos da cidade: "Este nosso filho é rebelde e contumaz, não dá ouvidos à nossa voz; é um comilão e um beberrão." Então todos os homens da sua cidade o apedrejarão, até que morra; e tirarás o mal do meio de ti, e todo o Israel ouvirá e temerá.Fechei o livro e o guardei mais uma vez na estante, onde ele ficará por um longo tempo, aguardando que eu me aventure mais uma vez no estranho mundo dos cristãos.
12 de novembro de 2008
"As outras pessoas também importam"
Essa semana, o estado da California, que já foi conhecido por ser o lugar onde os hippies praticavam o amor livre, aprovou uma lei proibindo o casamento entre pessoas do mesmo sexo - uma lei totalmente estapafúrdia que só pode ter vindo da cabeça de fanáticos religiosos, e não de algum estudioso do mundo das leis.
Enfim... esse comentário do jornalista Keith Olbermann diz tudo.
Você pode ler uma transcrição da fala dele nesse site.
Hoje: Tubarões
Site: http://fuckyeahsharks.tumblr.com/
Fonte: Minha boa amiga Frufr's.
Agora chega de palhaçada. Voltem ao trabalho.
7 de novembro de 2008
Como evitar a "Ansiedade do Século XXI"
1. Desista
Acostume-se com o fato de que você não pode resolver todos os problemas do mundo, do seu país, da sua cidade, do seu bairro, da sua família - nem mesmo os seus próprios. Homens grandiosos e influentes como Gandhi e John Kennedy tentaram e não conseguiram. Obviamente, em sua tentativa, fizeram grandes progressos - mas morreram longe de conquistar tudo o que sonhavam. O desejo é o combustível da vida, e os sonhos são o mapa, mas isso não quer dizer que você vai chegar aonde você quer.
Isso não deve ser usado como uma desculpa para a preguiça ou para a vadiagem, mas é importante introjetar essas noções antes de prosseguir. Aprenda a relaxar quando as coisas derem errado, e a rir das suas frustrações. Raiva e melancolia não aliviam nada, e não devem ser consideradas coisas normais.
2. Fale baixo
Sob o pretexto de conseguir o que querem ou de fazer a coisa certa, muitas pessoas costumam falar alto ou até mesmo gritar. Esse comportamento primitivo, típico dos gorilas das savanas, não nos leva a lugar nenhum. Se você quer se fazer ouvir, use a inteligência, e não as cordas vocais. Além disso, pessoas que realmente podem te ajudar nunca vão te levar a sério se você levantar a voz para elas ou qualquer outra pessoa. Compare o tom de voz dos discursos de Winston Churchill e Adolf Hitler, e lembre-se de quem ganhou a guerra.
3. Deixe a internet em paz
Não adianta ficar o dia inteiro no MSN, GTalk, Twitter, Lastfm, Blip, Google Reader, Myspace, Facebook, Orkut... Você nunca vai dar conta de tudo ao mesmo tempo. Converse apenas com seus poucos amigos de verdade. Não leia todos os blogs do mundo. Esse papo de que vivemos na era da informação, e que informação é poder, é tudo papo de auto-ajuda corporativa. Ler oitocentos blogs por dia não vai te deixar rico.
Quanto às redes sociais e programas de conversa, lembre-se das sábias palavras de Annie Lenox: "todo mundo está procurando alguma coisa; alguns deles querem te usar, outros querem ser usados por você". Reduza os seus contatos inter-pessoais ao mínimo necessário e concentre-se em construir relacionamentos verdadeiros e frutíferos, ao invés de ficar apenas agradando e sendo agradado superficialmente por centenas de "pessoas". No mundo das relações inter-pessoais, qualidade vale muito mais do que quantidade.
4. Todo mundo morre sozinho
Você pode ter mãe, pai, irmão, avó, cachorro, iPod, celular, Orkut, colegas da faculdade, pessoal da academia, turma da cerveja... Namorado, marido, peguete, vagaba, ficante, pretê... Mas mesmo assim, você, assim como eu, e todas essas pessoas, nasceu e vai morrer sozinho.
Você é uma pessoa só, individual e imiscível. Nunca busque a satisfação existencial no outro. Concentre-se em quem você é. Ouça as vozes na sua cabeça, e converse com elas. Não tente ignorá-las ou fazê-las calar usando drogas ou dirigindo em alta velocidade. Não importa para onde você vá, você sempre estará lá, e é impossível fugir de si mesmo. Compartilhe a sua individualidade com outras pessoas, mas nunca se esqueça que, por mais que você ame a sua família e seus amigos, você é apenas você mesmo. Seja sempre o seu melhor amigo e não dependa dos outros para nada, principalmente ser feliz.
E nunca se esqueça: você vai morrer, e não existe absolutamente nada que você possa fazer para impedir isso, ou para prever quando e como isso vai acontecer. Não procrastine a sua felicidade. Você pode morrer a qualquer momento.
5. Ame muito, mas pouco
Nunca desista do amor. Mas não pense que ele vai salvar a sua vida. Quando você estiver sozinho, deprimido, pensando que nunca vai encontrar alguém para amar, lembre-se de que mesmo se você conhecer milhares de pessoas horríveis, você só precisa de uma pessoa legal. Não desista, e deixe que a grande e maravilhosa aleatoriedade do universo jogue alguém no seu caminho, e jogue você no caminho de alguém.
Se você já ama alguém, mas está tendo crises no relacionamento, lembre-se: ninguém, a não ser você mesmo, pode ser responsável pela sua felicidade. Ame como se não houvesse amanhã, e sem pedir nada em troca - mas certifique-se de fazer isso com alguém que vai compreender o seu amor, e que o mereça. Claro que o casamento não vai te satisfazer, assim como ter filhos também não. Casamento e filhos não vão fazer com que a sua vida, subitamente, comece a ter sentido. O sentido da vida é viver. Se você não achar isso suficiente, você vai sofrer.
6. Só trabalhe com o que você ama
Nunca se engane pensando que ter um emprego stressante vai ser compensado no futuro com uma gorda recompensa. Ter empregos idiotas consome a sua alma e te transforma em um zumbi. Estude como um louco e tenha planos de metas para conseguir trabalhar, pelo menos, com alguma coisa mais ou menos relacionada ao que você gosta. Mesmo que isso signifique mudar de cidade, estado ou país. Dane-se a sua família e os seus amigos: sua sanidade mental precisa ser preservada. Se você não se orgulha do seu trabalho, mude até conseguir. Não importa de onde vem a grana, desde que você consiga dormir bem à noite. Mas lembre-se de que não existe almoço grátis e nem emprego perfeito: quem trabalha na Pixar e no Google também fica stressado, acha o chefe idiota, reclama do salário, e assim por diante.
7. Encontre alguma coisa maior do que você
Pode ser a música, a poesia, uma religião, servir sopa para os mendigos, literatura, ferromodelismo, moda, reformar carros antigos - você precisa pertencer a alguma coisa interessante que te mantenha longe do pensamento "eu" e troque sua primeira pessoa do singular pelo plural. Seja um agente de alguma coisa boa, e não apenas um indivíduo solto no espaço. Ninguém é uma ilha, e pertencer a alguma coisa que você mesmo escolheu é bem melhor do que acabar caindo em alguma coisa de que você nem gostava. É o que sempre acontece com os drogados e alcoólatras: passam a vida no hedonismo egocêntrico, e de repente encontram Jesus. É sempre a mesma coisa. Seja mais rápido do que Jesus, e encontre alguma outra coisa de que você gosta. Participe, conheça pessoas, troque experiências, e ajude a construir coisas. É uma ótima maneira de entender por que você está vivo.
8. Não fique escrevendo no seu blog até as 3 da manhã de sábado.
6 de novembro de 2008
"Ora Até que Enfim"
Ora até que enfim..., perfeitamente...
Cá está ela!
Tenho a loucura exatamente na cabeça.
Meu coração estourou como uma bomba de pataco,
E a minha cabeça teve o sobressalto pela espinha acima...
Graças a Deus que estou doido!
Que tudo quanto dei me voltou em lixo,
E, como cuspo atirado ao vento,
Me dispersou pela cara livre!
Que tudo quanto fui se me atou aos pés,
Como a sarapilheira para embrulhar coisa nenhuma!
Que tudo quanto pensei me faz cócegas na garganta
E me quer fazer vomitar sem eu ter comido nada!
Graças a Deus, porque, como na bebedeira,
Isto é uma solução.
Arre, encontrei uma solução, e foi preciso o estômago!
Encontrei uma verdade, senti-a com os intestinos!
Poesia transcendental, já a fiz também!
Grandes raptos líricos, também já por cá passaram!
A organização de poemas relativos à vastidão de cada assunto resolvido em vários —
Também não é novidade.
Tenho vontade de vomitar, e de me vomitar a mim...
Tenho uma náusea que, se pudesse comer o universo para o despejar na pia, comia-o.
Com esforço, mas era para bom fim.
Ao menos era para um fim.
E assim como sou não tenho nem fim nem vida...
1 de novembro de 2008
30 de outubro de 2008
Um dia como outro qualquer.
Hoje foi um dia típico na minha vida.
Acordei às 7 da manhã, depois de 4 horas de sono. Tinha que esperar o entregador da máquina de lavar roupa que ia chegar na parte da manhã, "no máximo 11 horas" disse o vendedor. Enquanto esperava, resolvi entrar na internet. Metade dos sites que eu queria acessar, incluindo a Wikipedia e o YouTube, não estavam entrando. Problemas no Virtua.
A manhã passou lenta enquanto eu esperava a entrega. Subitamente, toca no celular um número desconhecido. Atendo, e é uma chamada a cobrar. Só podia ser o entregador. Atendo, mas ninguém fala. Ligo de volta para o número. Duas vezes. Ninguém atende. Desço até a portaria e vasculho a rua. Tem uma kombi e um caminhão estacionados. Pergunto em ambos. Nenhum dos dois era para mim.
Esperei o entregador até o meio-dia, quando resolvi sair para almoçar - ele podia me ligar no celular se chegasse. Fui até o banco tirar dinheiro para almoçar e pagar o entregador, e descobri que minha conta no banco estava negativa.
Liguei para meu pai e pedi o dinheiro do entregador emprestado. Ele estava ali por perto, e nos encontramos para almoçar. Meio-dia e dez, todos os restaurantes da região estavam lotados. Dei sorte: peguei uma fila de apenas 15 pessoas, e almoçamos em silêncio na mesa de outros dois caras.
Voltei para casa e esperei o entregador até as 15:00. Não dava mais para esperar: saí de casa e peguei um ônibus até o centro da cidade, onde tinha que buscar meus pratos de bateria para um ensaio às 18:30. Trânsito horrível, ônibus lento, um calor insuportável. Apenas mais uma quarta-feira normal em Belo Horizonte.
Chego no estúdio, meu amigo que trabalha lá não estava. Abre a porta o sócio dele, que eu nunca tinha visto mais gordo. Ele me leva até o estúdio, onde abro a porta e arruino a gravação que um menino estava fazendo. Ela larga e guitarra e tem que começar tudo de novo, enquanto eu saio envergonhado do local com uma tonelada de círculos de bronze, níquel e cobre.
Desço do ônibus escorrendo suor, e no caminho de casa, carregando o peso dos pratos, sinto meu celular vibrar. É minha esposa, querendo saber se eu não ia ao ultra-som com ela. Digo que estou chegando em casa, e ela me pergunta se eu comprei os DVDs para gravar o vídeo. Sem querer nem saber se eu tinha ou não dito que ia fazer isso, corro até uma papelaria para comprar os malditos disquinhos. Os atendentes da loja são incrivelmente lentos, assim como é complicado o sistema da loja - envolvendo carimbos e outras coisas que eu achava que só existiam em livros do Kafka. Um cliente grande e lento atrapalha minha passagem.
Chego em casa sem fôlego, transbordando suor pelas roupas. Jogo os pratos no sofá da sala, e saio com minha mulher para ir até a clínica. Ela resolve ir de ônibus para não ter problemas para estacionar o carro, e pegamos um SC02A lotado. O coletivo dá uma volta enorme pelo centro da cidade, e revisito pela janela vários lugares por onde tinha acabado de passar. 45 minutos depois, chegamos na clínica, que ficava a 30 minutos de caminhada da nossa casa.
Entro na sala de espera, e sinto um alívio: ar condicionado bombando. Sento-me na cadeira acolchoada, fecho os olhos, e deixo-me levar pelo ar frio. Penso em coisas boas. Vida simples. Essas babaquices.
30 segundos depois, toca o celular. É o entregador.
Discuto com ele no telefone dizendo que o vendedor da loja é quem tinha marcado o horário. Ele diz que vai levar a máquina de volta à loja. Gastando todo o resto da minha paciência, não mando ele tomar no cu nem nada do tipo. Desligo o celular e tento me concentrar no ultra-som. A atendente diz que vai demorar pelo menos 2 horas. São 17:45 e eu tenho um ensaio às 18:30.
Toca o celular. Mesmo número, outro entregador. Diz que podem esperar meia hora. Decido resolver logo o problema. Deixo minha mulher sozinha na clínica e corro até o ponto do ônibus. Hora do rush. Trânsito parado. Quando chego perto da minha casa, o ônibus dá uma volta sinistra e vai parar no Parque Municipal. Pulo da porta e saio correndo na Afonso Pena em pleno fim de tarde. Confiro mentalmente se ainda tenho algum dinheiro: só sobraram os 30 reais do entregador e alguns trocados. Não dá para o taxi, mas dá para outro ônibus. Chego na rua, e vejo o maldito subindo lentamente. O sinal fecha, corro por entre os carros, dou sinal, o motorista arranca. Sigo o carro até o sinal fechado, bato na porta, peço pelo amor de Deus - pela primeira vez na minha vida - e ele cede. O trânsito está uma merda. Ligo para o entregador. "Estamos aqui esperando."
Desço do ônibus muito tempo depois, vindo de um engarrafamento brutal. Já estou atrasado para o ensaio. Chego no prédio, não vejo entregador nenhum. Ligo para eles: "estamos chegando". Espero até as 19:20. Eles chegam, jogam a lavadora no canto, e vão embora em 2 minutos.
Chego no meio do ensaio, e ninguém começou a tocar ainda. O ar condicionado não dá conta de nós 6 dentro da salinha. Passo 1 hora tocando bateria, escorrendo suor, exalando odores inimagináveis. Camada após camada de suor sob a minha camiseta.
No fim do ensaio, discussões sobre problemas de horário e ensaios, mas não consigo ouvir nada. Minha cabeça está a ponto de explodir.
A noite cai mas o calor continua. Encontro minha esposa chegando do exame e temos tempo de comer um sanduíche rápido. Minha cabeça dói muito, e nem sei dizer por que - poderia ser o calor, o stress, a fome, a sede, ou tudo isso junto. Como, bebo água, mas nada adianta. Tento rir dos eventos malucos do dia, mas nada resolve. Decido então testar a maldita máquina de lavar. Já que deu tanto trabalho, pelo menos quero dormir com aquele cheirinho de roupa limpa no varal.
Descobri que deixei a geladeira desligada por duas horas. Religo tudo, coloco um T na tomada, e vamos em frente. Encho a máquina de lavar com roupas pretas, programo tudo, ligo tudo, e aperto o "on/off". Ela liga e começa a encher o tanque com água.
Sento-me à mesa e faço um lanche rápido onde tento colocar em perspectiva todas as maluquices do dia. Depois de comer, vou até a máquina, e vejo que a área está toda inundada. Algum defeito no aparelho fez com que ele não parasse nunca de encher. Vou ter que ligar para a loja, reclamar, chamar a assistência técnica, o diabo. Desligo tudo e tento fazer alguma coisa para esvaziar o tambor da máquina. Ligo o modo "centrífuga", aperto o botão, e ouço a água vindo pelo cano. Pelo menos alguma coisa na máquina está funcionando.
Quando a água começa a jorrar dentro do tanque, começa também um refluxo no ralo do banheiro de empregada. A água de esgoto, impulsionada pelo escoamento da máquina de lavar, jorra para cima, inundando mais ainda a área de serviço, não mais com a água cristalina e suja de sabão em pó que vinha da máquina, mas com uma água preta e fedorenta saindo do ralo.
Desligo a máquina com um suspiro. Pego os poucos panos de chão que temos em casa e evito que a água se espalhe para dentro da cozinha. Fecho tudo, apago as luzes. Chega. Cansei. Desisti.
Vou até o banheiro e tomo um banho gelado, morrendo de medo de tomar um choque ou algo do tipo. A dor de cabeça continua forte.
Esgotado e à beira de um ataque de nervos, caio na cama, luz apagada, meio molhado do banho, coberto só pela toalha. Tento me concentrar no vazio, na escuridão, apagar e dormir o mais rápido possível. Amanhã vai ser um novo dia, e tudo vai dar certo.
Olho no relógio. O dia ainda não acabou.
A campainha toca às 23:00. Abro a porta, e vejo uma vizinha. Aos seus pés, um rio de esgoto, cuja nascente é a porta da minha área de serviço, as margens são as paredes do corredor do nosso andar, e termina em uma caudalosa cachoeira de mármore em direção ao andar de baixo.
Pano de chão e balde em mãos, ajoelho-me na escada e começo a secar um degrau após o outro. Passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola, passa o pano, torce no balde, desenrola. Muitas e muitas vezes além dessas aqui descritas.
Agora são 1 da manhã. Estou acordado há 18 horas. Meu estômago está roncando. Minha cabeça dói como se tivesse uma bola de sinuca dentro. Não me lembro direito do que aconteceu. Só sei que eu só queria ser um cara normal. Eu só queria fazer tudo direitinho e deixar todo mundo feliz.
Mas eu nunca aprendo.
24 de outubro de 2008
Feriados Muito Loucos
Eu sempre curti Halloween, Natal e outras festividades malucas, mas nunca tive muita paciência para a influência religiosa delas. Felizmente, ao longo da vida, fui percebendo que as principais festas do nosso calendário foram cristianizadas à força, mas tinham raízes muito mais antigas do que o próprio cristianismo.
Essas festas sempre caem nas datas dos equinócios e solstícios, ou então nas datas de virada entre as estações do ano. É o caso, por exemplo, do famoso Halloween.
Essa tradição irlandesa se popularizou nos Estados Unidos, e por isso é vista com maus olhos pelos puristas no Brasil. A festa ocorre no final de Outubro, que é quando termina o outono no hemisfério norte e começa a preparação para o inverno. Os fazendeiros fazem a colheita e matam vários animais para estocar a carne e a gordura e enfrentar o frio do inverno que vem por aí. Segundo a tradição, nessa época a barreira que separa o mundo dos espíritos do mundo dos humanos fica borrada, e os fantasmas do além têm mais força para interagir com os mortais.
Dois meses depois dessa data, no final de dezembro, ocorre o solstício de inverno, que, em teoria, seria a noite mais longa do hemisfério norte. É por isso que a maioria dos heróis lendários e mitológicos daquele lado do mundo nasceu no final de dezembro, entre eles o famoso Jesus. Mas a idéia nessa data é espantar o frio e a escuridão do inverno com luzes muito brilhantes, e celebrar a vida com fartura em uma mesa muito rica em comidas cheias de calorias para enfrentar o final do inverno: bolo de nozes, carnes vermelhas e brancas, arroz com champagne, castanhas, frutas cristalizadas, etc. O simbolismo da árvore é tão antigo quanto o tempo, e remete à idéia dos ciclos de vida e da dependência que o homem tem da natureza. Enfeitá-la com guirlandas e outros enfeites brilhantes, além das luzes, cria focos de luz na escuridão do inverno.
É claro que, aqui no Brasil, essas datas são invertidas, mas isso não nos impede de festejar. Basta separar o joio do trigo e ficar apenas com a parte boa das festividades.
HALLOWEEN
Coisas paias: Sair pela rua enchendo o saco dos seus vizinhos pedindo comida e doces.
NATAL
Coisas paias: Ficar stressado na fila do caixa das Lojas Americanas, gastar dinheiro à toa com presentes inúteis, incentivar o consumismo capitalista desenfreado, a Missa do Galo, presépio, músicas de natal, ganhar meias.
22 de outubro de 2008
Blog anti-Quintão
http://www.bhcontraquintao.blogspot.com/
O blog acima se dedica a publicar mensagens contra o candidato Leonardo Quintão, misturando artigos de jornal, depoimentos, vídeos do YouTube e outras. Vale a pena a leitura.
18 de outubro de 2008
Erasmão
Ninguém nunca entende quando eu falo que gosto mais do Erasmo Carlos do que do Roberto.
Pois estava eu hoje cantarolando a seguinte canção:
Meu bem, meu bemE pensei: "Melô do baseado...!!"
Toda vez que eu te vejo
Mais aumenta o meu desejo
Me acende com teu beijo
Me acende...
Meu bem, meu bem
Beija bem devagarinho
Me abraça
E me chama de benzinho
Me acende com carinho
Me acende!...
Imagina se o Robertão ia escrever uma música do ponto de vista de um baseado!
Jamé.
16 de outubro de 2008
Resumo da Semana (Mês) (Década) (Era Cristã)
Laerte, gênio de plantão, mais uma vez explica tudo o que eu penso sobre política e economia em apenas 4 frases e seus respectivos desenhos. Poder de síntese na sua cara!
14 de outubro de 2008
Sub-prime na sua cara!
Saiu uma pesquisa do Gallup feita nos Estados Unidos entre 10 e 12 de outubro, com 1.269 pessoas. Margem de erro de três pontos percentuais.
- 49% dos entrevistados não esperam a recuperação da economia por um longo tempo e vêem a crise como causa de uma mudança permanente na economia.
- 47% dizem que o mau momento da economia é temporário
- 91% dizem estar descontentes com o modo como o governo está resolvendo a situação.
- 16% dizem confiar em George W. Bush e em sua equipe de assessores.
- 80% dizem não acreditar que Bush será capaz de resolver a crise nos últimos meses de seu mandato.
- 25% aprovam o governo Bush.
- 71% desaprovam.
- 63% dizem não acreditar que o republicano John McCain possa encerrar a crise.
- 50% dos entrevistados não confiam nas propostas de Barack Obama para retomar o crescimento econômico.
Nos Estados Unidos, a crise já começa a ser sentida nas ruas, e na cara das pessoas. O cidadão médio comum daquele país investe seu dinheiro na bolsa como nós brasileiros "investimos" na poupança. Ou seja, agora que os mercados despencaram e parece ter estourado uma bolha no sistema financeiro dos EUA, não foram apenas os grandes bancos e corporações que perderam dinheiro, mas toda a classe média que tinha sua aposentadoria e a universidade de seus filhos aplicados na bolsa também perdeu muito dinheiro. O Dow Jones já está acumulando uma queda de 40% em um ano.
Os estadunidenses que financiaram a compra de suas casas próprias no famoso "mortgage" também estão em maus lençóis. O valor da dívida do financiamento ultrapassou o valor real dos imóveis, e a tendência é que essa discrepância aumente ainda mais. Cerca de 10 milhões de famílias estão nessa situação.
O endividamento atual das famílias dos Estados Unidos já soma 140% do valor do PIB daquele país, o que equivale a aproximandamente US$ 19.600.000.000.000,00 (dezenove trilhões e seiscentos bilhões de dólares). Essa dívida remonta à recessão do ano 2000, quando a solução para a crise foi liberar o crédito como se não houvesse amanhã.
Esse amanhã havia, e é hoje.
Os bancos que financiaram essa enxurrada de endividamentos estão passando muito aperto. Alguns já quebraram, e os restantes emprestaram entre 10 a 35 vezes o valor do patrimônio real de que dispunham.
A situação atual: os bancos estão devendo todo mundo, as pessoas estão devendo todo mundo, e ninguém tem dinheiro para nada. Se ninguém tem dinheiro para nada, como é que as pessoas vão comprar coisas? E se elas não comprarem coisas, como é que as empresas que vendem coisas vão ganhar dinheiro? Sem dinheiro, as empresas começam a demitir funcionários, os desempregados não podem pagar suas dívidas aos bancos, os bancos não têm dinheiro para fazer nada, e assim a avalanche vai descendo a montanha.
A taxa de desemprego da Califórnia já chega a 7,7% contra 6,1% da média nacional. A tendência é que ambos os números cresçam ainda mais.
Agora quem vai se endividar como se não houvesse amanhã é o próprio governo federal dos Estados Unidos. O presidente Bush anunciou hoje que o governo vai investir duzentos e cinqüenta bilhões de dólares para comprar ações das empresas e bancos que estão próximos da falência devido ao endividamento. Ninguém quer usar a "palavra com E", mas o que eles vão fazer é estatizar parcialmente essas empresas para evitar que elas sejam gerenciadas de maneira ainda mais desastrosa. Isso vai impedir uma quebradeira generalizada, mas vai mandar o déficit fiscal dos EUA para a estratosfera.
A origem dessa dinheirama toda são os famosos Títulos do Tesouro. O "banco central" dos EUA emite esses títulos e vende no mercado. Agora o que eles vão tentar fazer é vender esses títulos a outros países - como se fossem uma empresa à beira da falência vendendo ações a novos investidores.
O problema é que nos EUA todo mundo está endividado até a raiz do cabelo. Governo, bancos, empresas, cidadãos - todo mundo está devendo até a alma. Quem é que vai confiar nesse sistema a ponto de comprar suas "ações"? Quem é que está disposto a emprestar esse dinheiro para os Estados Unidos, e qual será a taxa de juros cobrada?
Um dos principais clientes em potencial são os "países em desenvolvimento" ou "economias emergentes", que têm mais ou menos uns US$ 9.000.000.000.000,00 circulando no mercado (nove trilhões de dólares - estou escrevendo os números com esse monte de zeros para vocês terem uma noção visual do tamanho do problema).
A prova de que a coisa está mais feia do que parece foi o que aconteceu no último sábado, 11 de outubro de 2008. O presidente George W Bush desceu de seus tamanquinhos de cowboy e participou, humildemente, pela primeira vez na sua vida e em seus 8 anos de governo, de uma reunião do G20.
Quando o líder máximo dos EUA precisa pedir esmola aos seus amigos mexicanos, chineses, africanos e brasileiros, é porque estamos mesmo à beira do abismo.
10 de outubro de 2008
A crise monetára internacional
Eu falo, falo, falo, mas ninguém escuta.
Cansei de avisar o Henry Paulson pra tomar cuidado com os créditos podres. Ou melhor, créditos pobres. Eu dizia a ele: "Hank, meu filho, não deixa esse povo emprestar dinheiro como se não houvesse amanhã!" Mas não. Garoto liberal, deixou as empresas fazerem o que quisessem. E deu no que deu.
O problema do liberalismo é que, assim como todos os sistemas de governo e economia do mundo, sua linda teoria esconde uma intenção nefasta. A idéia de deixar o capitalismo trabalhar livre das amarras do governo parece ótima, mas inclui uma cláusula muito pequenininha no final do contrato que quase ninguém lê. É que quando as empresas fazem uma merda qualquer - sem querer ou de propósito - quem tem que sair correndo para salvar a economia é o Governo. Ele tapa os buracos deixados pelas instituições financeiras que agiram de maneira displicente usando dinheiro público. E nunca é na forma de empréstimo. É sempre uma doação.
Muito se discutiu na semana passada sobre o "pacote de ajuda" do governo dos EUA para amenizar a crise. Como assim "ajuda"? As empresas estão a ponto de falir, e o governo pega dinheiro público para cobrir o rombo? Exatamente. Mas claro que existem bons motivos para fazer isso: evitar desemprego em massa, evitar o efeito cascata das quebras, etc. Quando o PROER ajudou os bancos no Brasil, eu compreendi que, se isso não fosse feito, ia ser uma quebradeira que ia acabar afetando diretamente as contas bancárias da maiorias das pessoas, e ia ser uma merda. Mas lá se foi o dinheiro... e no fim das contas, quem pagou isso foi a gente mesmo!
O que eu acho engraçado é que esse dinheiro, que teoricamente estaria ajudando os pobres, sai todo dos cofres públicos - e não é reposto depois. Os governos não fazem um empréstimo de 2 bilhões de dólares às empresas: eles enfiam o dinheiro no ralo para evitar que o resto da água vá embora, e por ali mesmo ele fica. Nunca mais se ouve falar nele.
Com pacote ou sem pacote, todo mundo concorda que essa é a maior crise econômica desde 1929, e todo dia o circuit breaker da BOVESPA é ativado mais de uma vez. Eu nunca tinha visto isso acontecer na minha vida, e agora isso acontece várias vezes por dia. É de arrepiar.
Eu que já passei pelo Plano Cruzado e coisas do tipo, ainda fico com aquele medo latente de que, a qualquer momento, a inflação pode disparar e os preços dos alimentos vão ficar malucos. Se isso acontecesse hoje, acho que seria ainda pior: tanto as pessoas quanto o capitalismo são muito mais selvagens hoje em dia do que eram em 1984. Por incrível que pareça.
O resultado final dessa crise vai ser o mesmo de sempre: as empresas vão lucrar, os investidores vão lucrar, os governos vão fingir que fizeram alguma coisa para ajudar seus eleitores, e os trabalhadores vão continuar pagando o pato. No Brasil, esse pato já consome 40% dos salários, e não existe absolutamente nenhuma esperança disso melhorar, seja no futuro próximo ou longínquo.
Enquanto isso, o soberano de nossa nação, impávido colosso, acalmou o mercado com suas palavras de sabedoria. Segundo Inácio,
"o papel do Presidente é passar para a sociedade a serenidade que a sociedade precisa para continuar acreditando no país. (...) Eu continuo otimista que a gente vai ter um grande Natal no Brasil. (...) É como se nós tivéssemos tomado uma vacina contra uma doença e ela está demorando para chegar ao Brasil."Enquanto isso, nos EUA, o nosso velho amigo Paulson está tentando arrumar algum jeito de "acabar" com a crise, minimizando o impacto dela sobre seus amigos ricos. Ele já se reuniu com seus brothers de Wall Street, e juntos else tramaram alguns planos. Paulson, que era um dos donos do Goldman-Sachs, incluiu em seu plano, aprovado pelo Congresso, a seguinte norma, na Seção 8 do texto:
“Decisions by the Secretary pursuant to the authority of this Act are non-reviewable and committed to agency discretion, and may not be reviewed by any court of law or any administrative agency.”Mentalidade típica de um bushista.
Enquanto isso, a classe média continua sonhando em ficar rica. Todo mundo continua comprando R$ 100,00 de ações da Vale e jogando poker nos finais de semana. Ajoelhados na Igreja, pedem a Deus que os torne ricos - o que é tão eficaz quanto jogar na Mega Sena.
Bem, e por que diabos eu, que sempre estou no vermelho, gosto mais de coxão mole do que de filé mignon, prefiro cachaça a champagne, não tenho carro, nem ações, nem empresa, nem herança, estou me importando com essa crise financeira?
É que vocês não acham meio esquisito essa crise ter estourado tão próxima das eleições?
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7 de outubro de 2008
Teenage Kicks
(esse post é diretamente vinculado a outro post que fica no blog da minha querida amiga Júlia, sobre o mesmo assunto, só que não, porém sim!)
Dizem por aí que todo adolescente é revoltado. Quando eu tinha lá meus 14 aninhos, eu bem que curtia o meu Nirvana e o meu Exploited, rabiscava um A de Anarquia na carteira do colégio, e dizia pros meus pais que não queria ser advogado. Eu deixei meu cabelo crescer, e isso causou uma comoção danada. Meus avós ficaram consternados - seu neto, cabeludo! Era um acinte. Eu ficava ouvindo também uns discos de heavy metal, e eles temiam pelo futuro da minha alma quando chegasse o dia do juízo final.
O que eu não sabia explicar aos meus avós era que, naqueles discos de que eu tanto gostava, eu encontrava uma verdade muito mais verdadeira que a deles. A verdade de que o juízo final já tinha chegado, que a gente já estava no inferno, e que daqui pra frente ia ser só isso. Que nada nunca ia melhorar, não haver nenhuma revolução, revelação ou redenção, muito menos intervenção divina.
Do "if you're going to San Francisco" que os meus pais ouviam na adolescência deles para o "walking these dirty streets with hate in my mind" que eu cantarolava enquanto andava pelas ruas da cidade, houve toda uma geração de mudanças.
Mas pensando melhor... será que houve mesmo?
Depois que o meu cabelo finalmente cresceu e eu fiquei parecido com um Ramone, minha mãe até que curtiu a idéia. Ela sempre quis ter uma filha mulher. Então ela adorava escovar o meu cabelo comprido e fazer tranças nele. Eu tinha que ficar 2 semanas sem lavar o coitado para ela parar de achar ele lindo e eu voltar para meu lugarzinho confortável longe da sociedade.
Aos poucos o som da "minha geração" também foi mudando. Aquela música que era tão agressiva nos anos 1980 já não surtia mais o mesmo efeito nos anos 1990. Em janeiro de 1991, quando o Sepultura tocou no Rock In Rio 2, o Max Cavalera foi preso porque teria pisado em uma bandeira do Brasil em cima do palco - mas logo depois a banda já estava no Fantástico, que louvava a carreira internacional dos 4 rapazes pobres de Belo Horizonte que agora ganhavam em dólar e excursionavam pela Europa.
E aos poucos a bola de neve foi descendo a montanha. Estilistas de moda como Vivienne Westwood e redes de lojas como a Hot Topic ajudaram a transformar as roupas que eram o uniforme dos punks em roupas fashionistas para consumo seguro das famílias de classe média. Coturnos e tarrachas ganharam a passarela, e são hoje vendidos alegremente em qualquer loja do centro ou dos shopping centers. Tatuagens e piercings viraram itens obrigatórios para pessoas chics, elegantes, descoladas, antenadas, e modernas em geral.
A mesma coisa aconteceu com o hip-hop, e lenta e progressivamente eu fui me afastando desses dois "movimentos". O ápice desse processo foi no dia em que o Roberto Marinho, um dos maiores ícones de tudo o que os punks brasileiros combatiam, morreu. Por sorte, eu tinha um show com a minha banda de punk rock naquela mesma noite. Mas quando noticiei a morte dele no microfone, ao invés de aplausos e gritos de aleluia, tudo o que ouvi foi um silêncio constrangido de pessoas que me achavam um canalha por estar celebrando a morte daquele homem que tantos hinos e fanzines punks haviam achincalhado.
Foi então que compreendi que, punks ou não-punks, hip-hoppers ou não-hip-hoppers, apesar da nossa fúria, ainda éramos apenas ratinhos em uma gaiola. A sociedade praticamente nos implorava para que fôssemos daquele jeito. A polícia praticamente nos agradecia por usarmos uniformes tão óbvios e gritantes, que os ajudavam a ir diretamente em seus alvos prediletos. Nossos cabelos compridos e espetados haviam sido cuidadosamente planejados por designers de produto na loja do Malcolm McLaren, em Londres. Era tudo um grande esquema, onde os nossos pais e avós fingiam que estavam horrorizados com nossa aparência e comportamento, mas na verdade eles sabiam exatamente o que estava acontecendo. Fomos ludibriados pela Máquina do Sistema, que era muito mais inteligente e eficaz do que jamais poderíamos ter sonhado, nem em nossos pesadelos mais aterrorizantes.
Não obstante, a maioria dos punks que eu conhecia acabou cortando o cabelo e encontrando seu lugarzinho na sociedade. Todo mundo casou, teve filho, arrumou emprego na empresa do pai, e hoje vive por aí, achando graça de um dia ter gostado de punk rock. Alguns poucos ainda curtem o som, e um ou outro ainda tem banda; mas existe uma certa magia, um fascínio grupal que se perdeu para sempre. O punk que eu conheci sobrevive hoje apenas em indivíduos, que de vez em quando trombam no supermercado e combinam de tomar um chopp para relembrar os velhos tempos.
Hoje, quando ligo a televisão, vejo programas como "Rebelde" e "High School Musical", e percebo que o nefasto plano da MTV deu muito certo. De 1984 para cá, tudo o que havia de mais honesto e revolucionário na música alternativa foi rápida e eficientemente transformado em estilos e produtos prontos para o consumo. O que restou foi um xerox colorido, enquadrado em vidro sem reflexo, à venda por R$ 500,00 na loja da Adidas mais próxima de você. A música que os jovens ouvem hoje em dia se resumem a versões pseudo-metal de músicas do Fábio Júnior, e música eletrônica repetitiva sem letra, sem melodia, sem harmonia, sem idéias, sem ideologia, sem crítica, sem dor, sem medo, sem absolutamente nada que não seja uma batida contínua que faz com que as mulheres tomem ecstasy e tirem a roupa para os machos sem camisa.
Fim.
Discografia
- Dead Kennedys - Fresh Fruit for Rotten Vegetables
- Minutemen - Double Nickels on the Dime
- Black Flag - The First Four Years
- Discharge - Hear Nothing, See Nothing, Say Nothing
- Escola do Rock - filme sobre o plano maquiavélico da MTV para conquistar o mundo.
- Josie & as Gatinhas - sobre a MTV e a influência da indústria cultural sobre os jovens.
- We Jam Econo - documentário sobre a banda Minutemen.
- Botinada - a história do punk rock no Brasil.
- Fucked Up & Photocopied - história visual do punk rock através de flyers e cartazes.
- Mate-me, Por Favor - a história do punk rock, contada por quem estava lá.
A longa espiral sem começo nem fim
Eu sempre fui obcecado por espirais. Espirais e buracos. Desde sempre, não sei explicar por que. Não sei se existe algum estudo sobre isso, ou alguma condição psicológica que tenha isso como sintoma. Só sei que eu sempre foi obcecado com espirais. Os alvos (e círculos concêntricos em geral) sempre me pareceram muito bonitos, mas as espirais sempre foram mais cativantes. Não apenas por sua condição geométrica, e a matemática envolvida na sua criação, mas especialmente pela sua metáfora. A espiral é uma linha enrolada sobre um eixo, que cria uma ilusão de profundidade e de infinito. Ela parece desenhar um túnel, e nunca conseguimos ver o começo nem o fim dele. A linha é infinita, e assim também parece ser o túnel. Eu nunca consigo achar que é um túnel subindo. Sempre acho que é caindo. Que a espiral é um buraco sem fundo, e a qualquer momento eu
posso cair lá dentro e ficar caindo e caindo por toda a eternidade. Mas talvez a espiral tenha sim um final - é só que ele está tão longe que daqui não dá pra ver. A espiral é a nossa vida: parece que está sempre girando e girando no mesmo lugar, mas na verdade a linha do tempo nunca se encontra com ela mesma. Está sempre girando em direção ao infinito, ou melhor, ao final invisível que fica lá no fim da vida. E assim seguimos girando e girando nesse túnel descendente sem fim, sempre achando que estamos andando em círculos, mas sempre um pouquinho mais próximos do fim. Que é o meio.
25 de setembro de 2008
Eleições 2008
Queria fazer um comentário sobre as eleições - tanto do Brasil quanto dos EUA - mas só faz sentido em inglês: I don't care about what is right. I want to know what are we going to about what is left.
16 de setembro de 2008
14 de setembro de 2008
Quem é você?
HERMENAUT: Obviamente, não em Chicago, não como você a retratou, uma cidade cheia de "Jim Belushis", esses malditos idiotas com cabelos mal cortados que estão tão imersos em um estereótipo que nem exergam que estão fazendo isso. Mas você nunca desejou ser um desses caras, pessoas felizes que nunca agonizam pensando em sua própria identidade?
DANIEL CLOWES: Não! Eu sempre soube que eu só poderia ser como uma dessas pessoas se minha percepção da realidade estivesse comprometida, e eu não iria gostar disso. A única maneira de você se definir como pessoa é sendo contra certos tipos de pessoa. Você começa a negar todo mundo, e aí... quem é você?
12 de setembro de 2008
Aquelas conversas que era melhor não ter
Estou parado no centro da cidade enquanto o Pedro grava o som ambiente da rua para usarmos no meu filme. Aparece um guardador de carro, com uniforme da prefeitura, que faz sinais com a mão, sem fazer barulho. Nos afastamos do microfone e ele pergunta baixinho:
- Vocês estão fazendo medição de ruído?
- Não, estamos gravando o som para um filme.
- Ah... É trabalho mesmo, ou trabalho de faculdade?
- Trabalho, eu sou diretor.
- Legal... como chama mesmo, é... De pouca duração...
- Curta metragem?
- É, é curta?
- É curta.
- Aqui tem muito curta né? Tem até aquele festival de Ouro Preto.
- Tem sim.
- É, aqui tem muita televisão também. Tem um cara que tem um programa na Rede Minas que diz que conhece 50% das cidades de Minas Gerais. Mas eu acho que eu conheço mais do que isso. Eu viajava muito de caminhão para entregar banana, tem um japonês na minha cidade que tem uns 3 estádio de futebol de plantação de banana.
- Doideira.
- É... Se eu pudesse voltar no tempo, eu ia estudar. Eu gosto muito de ciência. Eu ia muito bem nas matérias de ciências, até em matemática eu ia mal, mas biologia, física, eu era bom. Gosto muito.
- Mas você não precisa voltar no tempo, é só pegar e estudar.
- Não dá. Eu casei, tive filho, aí eu tenho que trabalhar.
Me despedi, e perguntei o nome dele, mas já esqueci. O nome dele era Brasil.
11 de setembro de 2008
Sessão Nostalgia: MSX
O MSX foi uma tentativa da Microsoft japonesa de criar um console que unificasse os padrões de produção dos fabricantes de hardware daquela época (início dos anos 1980). Apesar de ser da Microsoft, o mercado americano e o inglês nunca absorveram o MSX, que fez muito mais sucesso no Japão e no Brasil (que é tipo o Japão). Foram produzidas cerca de 5.000.000 unidades.
O conceito era revolucionário para a época, e ajudou a fundamentar a indústria de computadores como a conhecemos hoje. Inspirado pelo sucesso do padrão VHS, o executivo Kazuhiko Nishi, da MS Japan, propôs um "selo de compatibilidade" MSX, que seria aplicado em produtos que seguissem as mesmas normas técnicas. Assim, vários fabricantes (como Sony, Philips, etc) começaram a produzir peças inter-operantes, que funcionavam com peças de outros fabricantes. Até então, o mercado de computadores pessoais era dominado por computadores fabricados por uma só empresa, cujas peças não tinham nada a ver com as peças dos outros fabricantes, o que tornava os custos de manutenção e atualização muito altos. No Brasil, haviam duas marcas de MSX: O Expert da Gradiente, e o Hotbit, da Sharp, ambos fabricados aqui mesmo no Brasil, e sendo comercializados em lojas de departamentos como o Mappin, a Sears e a Mesbla.
Enfim, mas o que importava mesmo eram os joguinhos!
Quando eu era criança, todo mundo tinha Atari, e eu tinha Odyssey. Por mais que o Odyssey fosse melhor, ter um video-game que ninguém mais tinha era muito esquisito e me deixava com um sentimento de outsider muito grande. Finalmente quando conheci o MSX esse sentimento foi embora, porque os jogos dele eram tão melhores que os do Atari que não só eu perdi a vontade de ter um Atari como eu também perdi a necessidade de ter amigos. Os jogos do MSX supriam todas as minhas necessidades mentais, psicológicas, sociais e espirituais.
Muita gente não sabe, mas vários "franchises" famosos de video-games, alguns deles na ativa até hoje, nasceram na plataforma MSX. É o caso por exemplo de Metal Gear Solid, Castlevania, Contra e Final Fantasy.
Depois de passar meses entediado com os jogos da atualidade, como Doom 3, NFS e outras abobrinhas, tive a luz de baixar novamente um emulador de MSX e relembrar alguns dos grandes clássicos da minha infância.
Tudo começou com Hero, um clássico do Atari que tinha uma versão MAX com gráficos melhorzinhos. Era o cartucho que vinha de brinde no Expert da Gradiente e por isso foi jogado à exaustão. Depois vieram outros cartuchos, e finalmente entramos na era magnética, quando meu pai comprou o toca-fitas do Expert! Mas até lá, foram horas e horas passadas jogando Hero, que tinha um sabor especial porque, graças ao livro do Jules Verne e ao disco do Rick Wakeman, eu sempre fui obcecado com "Viagem ao Centro da Terra".
Na categoria "jogos de navinha", haviam dois grandes clássicos, um de orientação vertical e outro horizontal. Na categoria vertical (i.e. "imitações do River Raid" para os invejosos fãs do Atari) o meu favorito de todos os tempos era o Zanac:
Aqueles olhinhos vermelhos davam uma aflição desgraçada, pareciam uma coisa meio orgânica tipo Jayce.
Muito antes do Steet Fighter II a gente já se divertia muito com joguinhos de artes marciais. No MSX, o rei de todos era o Yie Ar Kung Fu, da Konami. Os lutadores eram temáticos, e cada um tinha uma arma especial do kung fu. Foi assim que eu aprendi que coisas esquisitas como ferramentas de jardinagem e leques podiam ser usados como armas mortais. Mas as maiores brigas aconteciam mesmo fora do jogo, quando a gente tentava chegar a um acordo sobre como se devia pronunciar o nome do jogo!
Na categoria espacial, poucos jogos conseguiram, até hoje, superar a jogabilidade, o design, a trilha sonora e as emoções do lendário Texder. Descendente direto de animes como Robô Gigante, Pirata do Espaço e Zillion, Texder era uma aventura robótica cheia de ação e gráficos alucinantes. Uma espécie de filho do Super Mario 3 com o Macross!
Para não dizerem que o video game e o computador afastavam a gente dos esportes, preciso lembrar que a Konami tinha jogos dos esportes mais variados, e eram de longe os melhor jogos esportivos do MSX. A gente (eu e o meu irmão e nossos vizinhos e amiguinhos) gostava muito do tênis e do ping pong, mas o que a gente mais jogava, sem dúvida, era o Konami Soccer!
Para ficar inteligente, eu jogava muitos jogos de quebra-cabeças e coisas do tipo. Apesar do Castle Adventure ser o "must" na minha família, eu gostava mais do Eggerland Mistery, principalmente por causa do design dos sprites.
Outro dos meus favoritos, que eu passei muito tempo jogando, era o Arkanoid, da Taito, que sobrevive até hoje na forma de clones genéricos em Flash.
E eu não poderia terminar esse post sem colocar uma imagem do pinguinzinho mais simpático da história dos jogos! Antarctic Adventure!
10 de setembro de 2008
Das limitações ofensivas da língua portuguesa
Desde a mais tenra idade que eu ando em busca do xingo perfeito. Aquela palavrinha sagaz, curta, sonora, boa de ser gritada, que contenha o máximo de ofensas possível, mas digna de ser dita por um cavalheiro, por mais puto que ele esteja.
Os xingamentos comuns não funcionam muito bem. Primeiro porque já foram usados tantas vezes que perderam o efeito. Filho-da-puta por exemplo, desvia a atenção da ofensa à mãe do ofendido. Além disso, não vejo problema nenhum em uma mulher ser puta, e não acho que isso devesse ser uma ofensa. Viado não tem graça, primeiro porque é meio homofóbico, e segundo que viado é apenas um animalzinho inofensivo da floresta. Cagão é meio aleatório e genérico demais, e pode até mesmo ter outros significados. Aqui em BH por exemplo, "cagão" é um cara muito sortudo. Bunda-mole até que vai, mas é pouco ofensivo e a palavra é meio comprida, composta, com hífen ainda por cima. Corno tem o mesmo problema de filho-da-puta: redireciona a ofensa a outra pessoa. Além disso, se a mulher do ofendido o trai com outro homem (ou mulher), por que ele deveria ser ofendido? Ele foi traído, isso sim. É a vítima da história. Eu quero uma ofensa!
Um dia eu pensei que tinha encontrado o xingamento perfeito: burro! É sonoro e bom de gritar - todo mundo sabe que o U, quando bem gritado, é a vogal mais apavorante do alfabeto, seguido de perto apenas pelo I. O problema é que o burro é outro animalzinho super simpático que não tem nada a ver com o peixe. Além disso, aqui no Brasil, ser ignorante ou idiota é mais motivo de orgulho do que de vergonha, por isso não acho que seja um xingamento muito ofensivo.
Em momentos de dúvida ou crise, eu sempre apelo para os antigos. E eles sempre nos trazem palavras altamente inspiradoras. Canalha, por exemplo, é um ótimo xingamento. Filisteu é uma boa palavra, mas é um xingamento meio cristão demais para o meu gosto. O mesmo vale para Judas.
Eu sempre me recordo do Capitão Haddock, amigo do Tin-Tin: Flibusteiros! Bucaneiros! Marinheiros de água doce! O legal dos xingamentos dele é que têm a ver com a profissão dele, ou seja, ele resume o mundo ao trabalho dele e qualquer um que faça mal aquele trabalho ou atrapalhe seu trabalho é considerado um inimigo, um errado, um antagonista, e por isso as palavras para descrevê-los soam para ele como os piores xingamentos possíveis.
Pensando nisso concluí que o xingamento é uma coisa muito importante na vida de uma pessoa, pois expressa o que realmente somos lá no âmago do nosso ser. Quantas vezes não vi uma menininha fofinhas, de 18 aninhos, linda leve e loura em seu modelito Belvedere, em um acesso de raiva soltar os palavrões mais racistas, sexistas e fascistas possíveis. A maioria das pessoas, se ficar com raiva de uma pessoa preta, vai usar xingamentos como macaco, favelado, etc. Vai chamar uma mulher de burra, de gorda, e outras coisas do tipo, dependendo da pessoa ofendida no caso. É no ódio que se revela a real faceta do ser humano, e é no momento do acesso de fúria que sabemos quem é realmente uma pessoa.
Tudo muito bonito, mas até agora eu continuo sem um xingamento para mim.
Acho que a saída vai ser usar o barulho sem palavras. Estou pensando em comprar uma daquelas buzinas em spray, ou então um apito, que é mais portátil para andar na rua.
Mas sei lá. Não é a mesma coisa.
7 de setembro de 2008
Gnosis x Arcanum
É foda. Domingo à noite, um calor infernal, jogo do Brasil rolando, e eu aqui sentado pensando na diferença entre gnosis e arcanum.
Mas é um assunto muito importante para mim. Vou explicar.
Existiam na Grécia antiga vários cultos ou seitas chamados "Cultos de Mistério", ou "Mistérios". Esse é um nome genérico para as organizações para-religiosas da Grécia e arredores até que o cristianismo chegou e se estabeleceu como o sistema de crenças principal daquela região. Os Mistérios eram cultos fechados aos não-iniciados, que não tinham ortodoxia e nem escrituras. Provavelmente eram organizações semelhantes ao que hoje conhecemos como Maçonaria.
A palavra "mistério" vem do grego musterion, que era o plural de musteria (μυστήρια). Nesse contexto, essa palavra significava "ritual secreto" ou "doutrina secreta". O indivíduo que seguia um determinado Mistério era chamado de "myste", "aquele que foi iniciado", da palavra "myein", "fechar" - uma referência ao voto de segredo (fechar olhos e boca) que os iniciados tinham que fazer em relação aos conhecimentos que eram passados nos rituais.
Existe também na língua inglesa a expressão "mystery play", que eram performances da Europa medieval organizadas por membros das guildas de ofícios, que eram conhecidas por esconder os segredos de suas profissões do público em geral.
Existe uma confusão entre os Mistérios e aquilo que no Brasil convencionou-se chamar de Gnose. Isso acontece, provavelmente, porque Gnosis é a palavra grega para "conhecimento". O conhecimento gnosis é diferente do conhecimento arcanum, a "sabedoria secreta". Esses eram os conhecimentos discutidos nos Mistérios. Enquanto os gnósticos esperavam encontrar o conhecimento através de revelações divinas, as religiões "misteriosas" assumiam que já tinham certos conhecimentos, e eles eram passados dos membros de maior graduação aos de menor.
Platão, que era iniciado em um desses Mistérios, foi criticado severamente por ter revelado ao público, através de suas obras, diversos princípios filosóficos "secretos".
Muito bem. E o que é que eu tenho com isso?
Acho que essa divisão entre gnosis e arcanum é a origem entre a eterna disputa entre a Academia e as Religiões. Enquanto nas religiões os fiéis esperam atingir a sabedoria através de experiências espirituais e contato com o Divino, na Academia existem os mestres que passam seus conhecimentos aos iniciados. O vestibular e o trote funcionam como metáforas aos ritos de iniciação dos Mistérios, e lá dentro existe uma complexa rede de hierarquia.
Platão representa aqui um acadêmico exemplar: contrariando a mentalidade dos Mistérios originais, e também das guildas de ofícios, revelou ao público geral os conhecimentos secretos dos cultos misteriosos. Infelizmente, em pleno ano de 2008, ainda existem muitos acadêmicos que pretendem manter seus conhecimentos escondidos dentro da Academia, exibindo-os apenas aos iniciados - e, não raro, nem mesmo a eles! Platão, democraticamente, transcendeu esses limites, permitindo ao público em geral usufruir, pelo menos em parte, dos conhecimentos misteriosos, reforçando a idéia de que o conhecimento não precisa vir do Divino.
Tenho orgulho de fazer parte desse Mistério que é a Academia, e espero seguir o exemplo do grão-mestre Platão ao desnudar perante os olhos do homem comum os conhecimentos "misteriosos" que adquiro com meus Mestres.
Tudo isso foi só para dizer que eu estou muito feliz porque minha dissertação de mestrado já teve mais de 17.000 downloads no meu site...
29 de agosto de 2008
Farinha do Desprezo
Não tou a fim de explicar nada não. Vou postar essa letra aqui porque eu tou a fim.
Sempre gostei dessa música.
Farinha do Desprezo
Jards Macalé & Capinam
Já comi muito da farinha do desprezo
Não diga mais, não me diga mais que é cedo
Há quanto tempo, amor, quanto tempo estava pronta
Que estava pronta a farinha do desprezo
Me jogue fora que na água do balde eu vou-me embora.
Só vou comer agora da farinha do desejo.
Alimentar minha fome pra que eu nunca me esqueça,
Ah, como é forte o gosto da farinha do desprezo,
Só vou comer agora da farinha do desejo.
27 de agosto de 2008
A dor e a delícia de ser belorizontino
Sempre que converso com amigos de fora de BH, percebo o quanto eles acham o meu sotaque e meu vocabulário engraçados. Tudo bem. Mas o que me morde mesmo é quando alguém fala que eu tenho sotaque de mineiro.
O sotaque de Belo Horizonte é muito diferente do sotaque mineiro tradicional. Belo Horizonte é uma megalópole urbanizada, e tem sua cultura e história próprias, muito diferentes da imagem de Minas Gerais que o resto do Brasil tem. Nós não somos um bando de jecas que comem queijo e usam chapéu de palha.
A cultura belorizontina é muito específica, e aqueles que vivem nela têm muito orgulho de suas características, que o resto do Brasil não conhece porque nunca fizeram uma novela da Globo passada aqui. Eles também acham que todo nordestino fala "ô xente", e coisas do tipo.
Sendo assim, decidi me apropriar de um texto clássico que circula há décadas (desde antes de inventarem o spam). Dei umas modificadas por minha própria conta e risco, mas aqui vai. Uma declaração de amor ao jeito belorizontino - e não mineirinho - de ser!
Belorizonte
A gente vai no clube.
A gente passa férias em Guarapari.
A gente não tem mar, por isso vive no bar.
A gente tem algum churrasco pra ir todo fim-de-semana.
A gente solta papagaio e anda de velotrol na Praça do Papa.
A gente anda de burrim no Parque Municipal. E depois vai no pedalim.
A gente assiste TV Alterosa, Rede Minas e MGTV.
A gente vai na Serra do Rola-Moça e no Pico do Ibituruna.
A gente come manteiga da terra do Patafufo.
A gente toma banho de mangueira quando tá calor.
A gente aprende a andar de bicicleta no estacionamento do Mineirão.
A gente come pão de queijo todo dia.
A gente almoça na casa da vó.
A gente vai na Feira Hippie e acha normal não ter nenhum hippie lá.
A gente vai na Floresta sabendo que lá nem tem tanta árvore assim.
A gente conhece todas tribo de índio do Brasil: Tupis, Tamóios, Guajajaras, Guaicurus...
A gente viu Hilda Furacão só pra ficar procurando lugares que a gente já foi.
A gente anda de ônibus colorido. Azul, amarelo, vermelho...
A gente tem medo do Capeta do Vilarinho, da Loura do Bonfim e da G.D.A.
A gente adorava a "limonzine" do Tony Rey. (sim, era uma limousine feita com um Monza)
A gente sabe que cruzeirense vai pela Catalão e atleticano pela Antônio Carlos.
A gente sabe que Bolão não é um cara gordo e que "tomar no Redondo" não tem nada de mais.
A gente vai na Praça da Liberdade todo natal pra ver as luz.
A gente sabe que quando alguém fala "vamo no shopping", é no BH Shopping.
A gente come pipoca no mirante do Comiteco, digo, Mangabeiras.
A gente conhece um tanto de cachoeira.
A gente já foi na Gruta da Lapinha, na Gruta de Maquiné, e na fábrica da FIAT.
A gente vai na Raja porque ninguém sabe escrever nem falar Gabaglia direito.
A gente come fígado com cebola, de pé, no Mercado Central, domingo de manhã.
A gente sabe que o Seis Pistas tem no máximo umas quatro.
A gente tem banda de rock.
A gente sabe que Santa Tereza é o bairro do Sepultura, e não do Clube da Esquina.
A gente acha normal subir e descer ladeira.
A gente participa de campeonato de peteca e de truco.
A gente tem a manha de chapá os melão e rachá os bico sem dá pala.
A gente chama todo mundo de véi.
A gente acha as coisa ou doida ou paia.
A gente fraga os movi da galera.
A gente não é minêro.
A gente é de Belorizonte!
"Nosso primeiro beijo foi no McDonald's"
Li essa frase em uma Playboy brasileira e fui tomado de assalto. Que poder de síntese! Tudo que está errado no mundo, resumido em um singelo conjunto de 6 palavrinhas.
Nosso... primeiro... beijo... foi... no... McDonald's...
Não foi em um lugar fechado, não foi em um lugar escuro, e nem aconchegante. Não foi escondido atrás da pilastra, não foi dentro do carro debaixo da chuva, não foi no cinema, e muito menos na cama ou no sofá. Não foi na casa de amigos, na boite, na praia, nada. Foi no McDonald's. Onde tudo é branco e iluminado e barulhento. Foi no meio de um mundaréu de gente comendo comida da pior qualidade. Nosso primeiro beijo foi com cheiro de gordura podre.
Bem... e o que eu podia esperar? A Playboy brasileira já deixou, há muito tempo, de ser um oásis de bom gosto. Compare uma edição do início dos anos 1990 com uma de hoje em dia e você vai ver uma clara diferença. O leitor médio de Playboy, outrora um bebedor de boas bebidas e comedor de boas mulheres, é hoje um cidadão comum, fã de futebol e de mulatas com a bunda desproporcional. Não aprecia as fotos por sua beleza estética, e pelo casamento harmonioso entre a habilidade e o bom gosto do fotógrafo e as formas inebriantes das convidadas. Não, nada disso. O que importa é se a mulher é famosa. No mundo da fama de 15 minutos, queremos ver peladas as meninas do BBB, as meninas da CPI, as meninas do Créu, a ninja do funk, e qualquer outra coisa desse nível. Antes, quem decidia que mulher era desejável ou não, era o Hugh. Agora, é o Huck.
É o poder infinito que a sociedade de consumo tem de estragar tudo, até mesmo o que ela própria criou. Caiu o mito da revista para homens refinados, a revista que separava os homens dos moleques. A revista que você lia quando virava homem, e que dizia o que havia de mais chic e elegante no momento. A revista das entrevistas gostosas e das mulheres inteligentes. Acabou. O que restou foi uma mistura de Revista Placar com ficar olhando pra janela da sua vizinha na esperança de ver ela pelada de costas e torcer para ela ser mais ou menos bonitinha.
Mas a realidade é dura. Temos que encarar. Vivemos em um mundo de primeiros beijos no McDonald´s.
Para mim, é fácil e cômodo pensar "cada um sabe o que merece". Mas não consigo deixar de ficar com pena dessas pessoas. O que foi que nós fizemos para merecer isso? Que culpa temos nós, que precisamos expiá-la nos privando de tudo o que havia de mais humano, saudável, belo e poético nesse mundo? Eu pensava que no futuro, onde vivemos hoje, as pessoas teriam que se privar de água potável e carros movidos a gasolina. Mas agora vejo que isso é o menor dos nossos problemas.
Viver sem água potável e sem gasolina é perfeitamente possível. Mas viver sem romance? Que graça há nisso? O homem médio do século XXI não vive: sobrevive, em meio a um deserto de significado, onde nada vale nada, nem mesmo o dinheiro. Tudo o que ele pode querer é malhar o bíceps, comprar roupas ridículas, beber sem sentir o gosto, e dirigir uma caminhonete bem poluente em plena cidade grande. Seus sonhos de consumo são uma casa, um carro, e uma TV de plasma.
Ah, e comer a enfermeira do funk.
21 de agosto de 2008
Sumiço
Os amigos leitores devem ter percebido que eu dei uma sumida. Infelizmente tenho pouco tempo para postar, e também estou com uma certa crise de personalidade nesse blog.
Inicialmente a idéia dele era comentar minhas aventuras atrás de bebida (whiskey) e (and) mulheres (wimmin).
Para isso, eu criei dois blog separados.
O Drink Drinker é um blog sobre bebidas, cocktails, receitas, dicas, história das bebidas, resenhas de degustação, etc.
O Fudeu! Vou ser pai! E agora? é um blog sobre ser pai (e mãe)no ano 2008, onde estou anotando todas as minhas impressões e descobertas sobre esse tema tão complexo e infinito. Como já tenho mulher grávida e tudo mais, os dias de galinhagem acabaram, e com eles as aventuras, dramas e comédias que os acompanhavam.
Isso tudo além dos outros incríveis blogs da Poeirosfera, que vocês podem acompanhar via RSS!
Mas de vez em quando eu tou um pulinho aqui. Nunca se sabe.
9 de agosto de 2008
O Peido
Nesses tempos de olimpíada, achei por bem trazer a vocês mais um pouco do budismo zen.
É a história do peido.
Era uma vez um monge estudioso do zen, muito esperto e disciplinado, chamado Su Dongpo (1036-1101). Ele vivia perto de um rio, e seu amigo, o mestre zen Foyin, morava na margem oposta. Os dois conversavam muito sobre o zen.
Um dia, Dongpo sentiu-se inspirado, e escreveu um poema:
Raios de luz iluminando o universo
Os Oito Ventos não podem me mover
Sentado sobre o lótus púrpura dourado
Os "oito ventos" são forças inter-pessoais do mundo material que dirigem e influenciam os corações dos homens: elogio, escárnio, honra, desgraça, ganho, perda, prazer e sofrimento. Ao dizer que não era movido por esses ventos, Su Dongpo queria dizer que havia atingido um nível elevado de espiritualidade, onde essas forças não o afetavam mais.
Satisfeito com o resultado de seu poema, Su Dongpo enviou um mensageiro até a casa do mestre Foyin. Seu amigo iria ficar impressionado com a beleza de seu poema.
Algum tempo depois, o mensageiro retornou, trazendo nas mãos o poema que havia levado. Ele entregou o papel a Su Dongpo e disse que Foyin havia lido o poema e depois havia escrito alguma coisa no papel.
Dongpo, curioso, abriu o papel e leu o comentário do venerável mestre zen:
"Peido."
Su Dongpo ficou chocado e furioso. Ao invés de um elogio, um selo de aprovação, seu velho mestre havia escrito apenas a palavra "peido". Sentiu-se ofendido com o comentário. "Como ele ousa me insultar dessa maneira? Isso não vai ficar assim!"
Indignado, Dongpo saiu correndo de casa e pegou uma balsa para atravessar o rio o mais rápido possível. Ele queria encontrar Foyin e exigir desculpas.
Quando chegou na casa do mestre, encontrou a porta fechada, e um bilhete pregado na porta:
Um peido me faz atravessar o rio
Su Dongpo sentiu-se decepcionado consigo mesmo. Se ele era realmente um homem de espírito elevado, como poderia ficar tão nervoso por um motivo tão estúpido?
Envergonhado e um pouco mais sábio, Su Dongpo voltou silenciosamente para sua casa.
5 de agosto de 2008
Todo pirata é espada?
Antes de mais nada, entre nesse site aqui e faça o teste. Depois você lê o resto do post.
Pronto?
Então vamos lá.
Eu fiz o teste, e achei muito interessante a lista de domínios que apareceu no meu browser, especialmente as notas que cada um recebeu no quesito sexualidade. Pelo que eu entendi, na proporção do quanto um site é macho ou fêmea, 1.0 significaria um site neutro e unisex; quanto mais esse número se aproximasse de 0, mais feminino ele seria, e quanto mais ele se aproximasse de 2, mais masculino. Um site com 0 seria totalmente feminino e um site 2 seria o máximo da masculindade.
Sendo assim, fazemos algumas constatações:
- O site mais feminino da lista é o diynetwork, com 0,69. Isso significa que as mulheres pegam mais pesado do que os homens na hora de reformar a casa. Ou então que elas entram no site, baixam os projetos, e obrigam os maridos a executar a parte que envolve mexer com produtos químicos e ferramentas que estragam a pele e as unhas.
- Tem mais mulher do que homem baixando fonts no dafont.com, indicando talvez uma supremacia feminina no mercado de design gráfico. Eu mesmo tenho 4 fonts nesse site e até hoje só recebi por causa delas e-mails de mulheres.
- bored.com vem em terceiro com 0,79 indicando que ser mulher no século xxi é mesmo muito entediante. Recomendo que as mulheres modernas abandonem de vez o Sex and the City e os discos da Madonna e aprendam com nós, homens, o que é se divertir. Ver futebol, por exemplo.
- O youtube foi o único site com exatamente 1 ponto, indicando ser o site mais balanceado e universal do momento. Tanto homens quanto mulheres gostam de ver vídeos de pessoas bêbadas dando vexame na tv ou em raves.
- Se as mulheres baixam mais fonts, os homens publicam mais fotos: o site flickr.com tem nota 1,15
- Os homens gostam mais de cinema e música do que as mulheres: o imdb é 1.06, o allmusic é 1,35 e o winamp.com é nota 1,5
- O site apple.com não aparece na lista, porque ela só mede a feminilidade ou masculinidade dos sites, e não leva em consideração sites gays, lésbicos ou transexuais.
- Considerando que a nota máxima da feminilidade seria 0 e o site mais feminino da lista tem nota 0,69, podemos afirmar que um site que tivesse nota acima de 1,7 seria de extrema masculinidade. O que dizer então do thepiratebay.org que tem nota 2,13???
Sem mais no momento, subscrevo-me.
Dept. de Pseudo-Estatística da Universidade Patafísica da Jamaica do Sul
Bolsista da Fundação Bob Marley
3 de agosto de 2008
Ateístas: ganhando desde 33 a.D.
"Deus quer impedir o mal, mas não consegue?
Ele pode, mas não quer?
Então ele é mau.
Ele pode, e quer?
Então por que existe o mal?
Ele não pode e nem quer?
Então por que chamá-lo de Deus?"
31 de julho de 2008
Só a noite é que amanhece
Eu nunca entendi a lógica do meu relógio biológico.
Minha relação com o sono e os horários sempre foi meio maluca, desde que eu era bem pequeno. Tinha uma dificuldade enorme para acordar de manhã e ir para a escola - parte disso influenciou o meu desempenho acadêmico risível até a faculdade. Acordar às 6 da manhã sempre foi um martírio para mim, qualquer que fosse a hora em que eu fosse dormir na noite anterior. Quando eu tinha 5 ou 6 anos de idade, meu hobby preferido era esperar meus pais irem dormir, sair do quarto silenciosamente, ir até a sala, ligar a televisão, e ficar assistindo filmes e seriados até o sol nascer.
Estou falando nisso porque ontem fui dormir às 2 da manhã e hoje acordei espontâneamente às 7. Sem dor de barriga, sem barulho no vizinho, nada do tipo. Eu apenas acordei e não consegui mais dormir.
Esse horário da manhã é muito esquisito. O sol está lá no alto, tudo está claro e iluminado, mas ainda está um pouco frio da noite. A rua não está barulhenta como vai estar ao meio-dia, e as pessoas que você vê na rua estão todas em um estado de consciência alterado, pensando em como a cama delas estava quentinha e como vai ser chato encarar mais uma manhã de trabalho e de aula. As pessoas que andam na rua nesse horário são sempre mais deprimentes do que as que voltam para casa às 5 da tarde.
Entre os 15 e os 17 anos de idade eu tive uma fase em que tinha que ir a pé até o colégio todo dia de manhã. Eu acordava por volta das 6 da madrugada, e descia o morro a pé com meu irmão e mais dois colegas que moravam ali perto. Era uma forma que tínhamos de nos incentivarmos uns aos outros para encarar mais uma manhã de martírio intelectual.
Às vezes aparecia o doidão corredor.
Era assim. Fazia um frio brutal, 6:30 da manhã, todo mundo passando mal de sono e de frio, enrolado com casacos e cachecóis e morrendo de ódio do universo por ter que acordar naquele horário para ir à aula, e de repente ouvíamos aquele barulho vindo pela rua. Passos. Passos rápidos e espaçados. Súbito, lá vinha ele: um metro e oitenta, pele cor-de-rosa, óculos de aro fino, cabelo volumoso cheio de fios brancos, cerca de 45 anos de idade, barbudo, sem camisa, com um short Adidas bem curto e tênis. E um relógio enorme no pulso, que certamente media seus batimentos cardíacos. Ele passava correndo no meio da rua, ofegante, triunfante, dono do asfalto, se achando muito esperto.
Talvez ele até fosse um cara legal, bom pai, patrão bondoso, etc. Mas eu tinha um tipo estranho e específico de ódio por esse cara.
Mas não era bem disso que eu queria falar.
É que eu acho engraçado como as horas do dia têm personalidade, assim como os dias da semana. Da mesma forma que as segundas são uma droga, as quintas são mais divertidas do que as sextas, e os domingos são deprimentes e entediantes, também as horas do dia têm duas características.
Independente da hora em que eu acordei, meu dia sempre começa por volta das onze da manhã, uma das horas favoritas dos trabalhadores de todo o mundo. Até as 10:59 ainda estamos presos no "time slot" na manhã: reuniões, aulas, conversas com o chefe, levar esporro de cliente, etc. A partir das 11:00 já chegamos na zona de conforto do almoço.
Chega então o meio-dia, o horário de almoço oficial de 99,99999% dos ratinhos de laboratório do mundo. Correndo em suas rodinhas de arame, eles invadem os self-selfs do mundo inteiro com suas pastas, bolsas, sacolas, mochilas, e um transbordante sentimento de "pressa responsável", como se pudessem justificar sua existência no mundo com a grosseria com que exigem a rapidez no atendimento; como se o fato de comerem meio quilo de comida em apenas cinco minutos fosse um símbolo de status. Eu, que não sou louco, jamais almoço ao meio-dia, pelo mesmo motivo porque eu não pego trânsito às 6 da tarde e não viajo no dia 23 de Dezembro à noite. Espero calmamente até as 13:30 para só então descer até a rua e escolher calmamente em qual das diversas cadeiras vagas do restaurante eu vou querer me sentar.
Depois do almoço vem a tarde. As 4 da tarde são um horário importante para quem precisa ir ao banco. Mas é às 3 da tarde que as coisas acontecem. 17:00 já não é uma hora muito bacana - está se aproximando o fim do expediente, o sol está indo embora, e logo logo vamos estar encarando um trânsito infernal, enquanto a luz e o calor do sol vão embora e o ar começa a ficar mais frio.
Esse horário do pôr-do-sol é o mais deprimente de todos. É quase que uma granada de domingo que explode todos os dias da semana. Deve ser alguma coisa no meu DNA, que fica deprimido toda vez que vê o sol indo embora. Conscientemente, eu fico feliz, porque odeio luz na cara, calor e coisas do tipo. E, mesmo assim, o pôr-do-sol sempre me deixa melancólico.
Chega então o polêmico horário das 19:00. Sete da tarde ou sete da noite? Isso divide o mundo em dois, assim como a cebola, a Sofia Copolla e os argentinos.
Por volta das 20:00 eu fico mais tranqüilo. Semanticamente seguro. Agora é noite mesmo, com certeza. Horário de verão ou não, às 20:00 já está escuro. O céu está cheio de estrelinhas, e chega a hora do jantar, que é a minha refeição favorita do dia. Não sei por que mistérios o jantar é sempre melhor do que o almoço, independente do cardápio. A não ser que seja dia de sopa.
Chegam então as 22:00 (estou pulando algumas horas de propósito - detesto horas ímpares) que sempre foi um horário tabu na minha infância. Para acordar às 06:00 eu tinha de estar dormindo às 22:00, e ver o relógio mostrar qualquer minuto além disso era sinal de tragédia. Hoje em dia tento lutar contra esse trauma - 22:00 é o horário em que eu começo a pensar em trocar de roupa para ir à academia, ou para sair com os amigos.
A meia-noite é um horário decisivo. A partir daqui, nenhum trabalhador digno e honesto, temente a Deus, está acordado. A não ser que esteja de pijama, deitado no sofá, vendo o Programa do Jô. É aqui que se separam os homens dos meninos, os seres humanos dos vampiros e lobisomens.
Surge então a madrugada - 01:00 é uma ótima hora para comer, principalmente se você jantou por volta das 21:00 ou 22:00. O difícil é achar um lugar bom e barato aberto, ou então vencer a preguiça e encarar o fogão enquanto todo o resto do mundo (no seu fuso horário) está dormindo.
Passam as 2, as 4, e finalmente vem chegando o limite da madruga, que são as cinco horas da matina. Nesse horário alguns malucos já estão acordando, o padeiro já está lavando as mãos, e os malditos passarinhos já começaram a cantar. É um péssimo horário para tentar dormir, especialmente se você está na rua bêbado igual a um gambá e fedendo a cigarro. É também o horário perfeito para conhecer a mulher da sua vida que vai ser mãe dos seus filhos.
Por volta das 6 já começou a palhaçada, e a romântica e poética madrugada tornou-se agora o vulgar e desprezível horário proletário. Os ônibus já trafegam em plena velocidade, poluindo o ar e os ouvidos de toda uma civilização. Vigias e porteiros trocam de turno, padarias começam a vender pão de bromato quentinho, e a televisão começa a falar abobrinhas, com "notícias" de Brasília e a cotação do dólar.
Mas meu estômago é fraco demais para testemunhar tudo isso. Quando chega essa hora, quero estar dormindo, para deixar bem claro que eu não tenho nada a ver com isso.